terça-feira, abril 21, 2009

por detrás do vidro negro em que me acabo

ouço um piar baixinho, vindo de dentro e que clama,
clamando seus clamamentos,
com seus clamares afoitos,
mas num piar baixinho, como um sufoco que chora,
chora, seus choramentos.
e por detrás do vidro negro em que me encerro
não vejo o mundo, e nem o sinto,
porque provindo de dentro dele não ouço nada...
só o teu clamar baixinho,
teu clamamento,
que junto ao meu me encerra por detrás do vidro,
num desmedido jorro de choramentos.
Compete-me rasgar as folhas em que escrevi vendavais.
Compete-me lançar fogo aos desalinhos da mente.
Compete-me fechar os olhos ao mundo que me desvia.
Compete-me, enfim, a mesma dor.
e Cumpre-se um destino cheio de nadas.

terça-feira, abril 14, 2009

por vezes as boas notícias passam discretamente sob o nosso olhar entorpecido

Noticia-se hoje, no Público, e também nos jornais locais, o projecto de investigação transdisciplinar em curso desde há uns anos, e que merece os encómios que os media lhe reservam, em boa hora.

A moderna história da arte concebe-se deste modo, utilizando uma equipa de investigação transdisciplinar norteada em favor de uma causa, ou de um problema teórico que urge resolver-se. As ciências ditas sociais e humanas devem mover-se, em termos metodológicos, e com as devidas alterações promovidas pelos meios que possuem para produzir hipóteses e para diminuir os erros, no mesmo horizonte que as ciências ditas exactas e, nessa medida, concebe-se o objecto de trabalho como um problema que merece resolução integrada. A tecnologia ao serviço da história da arte (ou o contrário) promove um conjunto de bens ciéntíficos de grande fortuna cultural. E o que escapa a uns, enquanto processo de trabalho, pode não escapar a outros, consubstanciando-se assim um elo de conhecimento integrado que merece aplausos, e que dispõe a levantar os véus ao tempo, conduzindo-nos por outros caminhos que, até então, faziam parte de um horizonte utópico e irreal.

Neste sentido, a feliz e oportuna companhia científica, miscigenando a Física, a Química e a História da Arte, surte efeitos devastadores.
Dedicando alguns dos meus anos a investigar o trabalho escultórico coimbrão quinhentista, senti a falência do trabalho teórico sem a justa coadjuvação com os meios tecnológicos que a moderna ciência (também) coloca, com grande facilidade, à disposição das ciências humanas. O estudo consertado da arte é assim mesmo que tem de realizar-se, nesta integração científica onde se cruzam saberes solidificados, produzindo-se resultados que abalam o tradicional mecanismo teórico e especulativo, sustentado apenas pelos meios empíricos e pela exegese documental.

O trabalho que a Faculdade de Ciências e Tecnologia (UC) desempenha conjuntamente com a Faculdade de Letras (UC) vem demonstrar que o saber científico não tem barreiras, e que as velhas querelas epistemológicas só podem ler-se à luz da história da epistemologia.