fechar portas e janelas é um assunto muito particular quando estamos perto do meio do ano, de olhos a cair de estragados, de rostos quietos e já praticamente sem expressão. fechar gavetas, capas e canetas é quase o mesmo que fechar as minhas mãos… guardar o peito em suspensão. sair com ele cá dentro para o revelar depois da reabertura de todas as portas e das janelas que com ele se fecharam antes de ir.
ano após ano encaro o mesmo rumo desacertado que acaba aqui, em fim de linha mal definido, a meio do ano, quando os olhos pesam, desarranjados, quando o corpo pende para a inacção, quando o peito entra num pousio feito de renúncia. e a cada ano, depois do outro, estancio nestes balanços de vida que se transmuta noutra, tão ilusoriamente, e por momentos de fadiga intensa, para regressar como fui.
fechar os estores e as malas dentro de um copo.
fechar o olhar, essa pausa na emoção de um ano, dentro do mundo.
fechar o dia e a noite para sentir o vento que pode, quem sabe, expurgar a alma que tem de rever-se depois, mais clara e mais limpa, ou mais sólida e mais capaz. a meio do ano é quando tudo se transforma em coisa qualquer que emerge para submergir. e neste dealbar da última porção do ano quero vingar a minha sorte de derivas. virou-se-me o inverno em verão e firmemente me encerro para o refresco da sorte que almejo para todos quantos outros dias virão.