quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Sobre o carácter dialogante da obra

Segundo E. Prado Coelho,
«a obra artística é um acontecimento e formula-se no interior de um horizonte transubjectivo de compreensão que obedece à lógica hermenêutica da teoria de Gadamer: a lógica da pergunta e da resposta. Porque qualquer obra é resposta a uma pergunta. A tarefa do intérprete é identificar a pergunta que deu origem à obra e avaliar de que modo a obra lhe responde. Isto significa que uma obra nasce tendo como pano de fundo um horizonte de expectativas que resulta da convergência de vários factores: a experiência prévia que o leitor tem do meio, a forma e a temática de obras anteriores cujo conhecimento se pressupõe, e a oposição entre o mundo imaginário e a realidade quotidiana. A ideia de que uma obra de arte surge do nada é insustentável, até porque a novidade absoluta é incomunicável e jamais atingiria o leitor. Há portanto uma cumplicidade prévia que a obra mobiliza através de um jogo de sinais e referências [...] e que produz o horizonte de expectativas que o texto interioriza.».
E. Prado Coelho,
A Mecânica dos Fluidos: Literatura, Cinema, Teoria,
INCM, Lisboa, 1984, p. 249.

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