sexta-feira, dezembro 12, 2008

IMC - Instituto dos Museus e da Conservação

O Portal do IMC, que será apresentado publicamente no próximo dia 15 de Dezembro no Palácio Nacional da Ajuda, estrutura-se em torno das áreas de intervenção fundamental do Instituto: Museus e Palácios, Conservação e Restauro, Património Móvel, Património Imaterial e Rede Portuguesa de Museus. Trata-se, por isso, de um espaço de suporte à investigação que não pode deixar de consultar-se com a regularidade que estes assuntos impõem...

terça-feira, dezembro 09, 2008

o estranho caso dos suínos tóxicos

Farta de ler notícias sobre bancos, sobre as avaliações, sobre as crises petrolíferas, sobre os crimes impuníveis de pedofilia, sobre a Índia e o Paquistão, sobre os mortos, os tantos mortos, sobre a crise socioeconómica que findará no termo da História, sobre a falência mais que visível da partidocracia, sobre os muitos maridos que matam as suas mulheres, e das mulheres que matam poucos maridos, sobre greves e manifestações, sobre a China e sobre as cheias, sobre a possibilidade de fecho de mais universidades, sobre o desencanto, sobre a bancarrota, sobre as alterações do clima, sobre o Cristiano Ronaldo (que confesso não ler…), sobre a vida espairecida dos nossos deputados incautos, sobre o recuo da qualidade de ensino, sobre o espectáculo do vento em alarmes rosa constantes, fixei-me na história das 30 toneladas de carne de porco conhecidas, que chegaram a Vila do Conde importadas da Irlanda, e que foram distribuídas da seguinte forma: seis para análise e as restantes para a indústria de transformação de carne em enchidos. Além do patetismo da questão, porque acredito que as salsichas (entre outros produtos congéneres) constituem um perigo para a saúde pública desde o dia da sua invenção, e porque não há forma de impedir que haja outro tanto de carne com toxinas a invadir o país desde antes da ASAE ter aberto a sua actividade para punir cozinhas públicas que não sejam, todas elas, revestidas a inox, o texto publicado no Público on-line sobre o assunto é de uma qualidade verdadeiramente assustadora.
Fico assim consciente de que estamos num país estranho, num mundo estranho, feito de gente estranha e que estranhamente persiste em viver coisas estranhas, estranhando a verdade, porque mais vale acreditar em mentiras.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

e se a cada ideia que tivéssemos, parássemos o tempo para que a pudéssemos registar

A única realidade para mim são as minhas sensações.
A única realidade para mim são as minhas sensações. Eu sou uma sensação minha. Portanto nem da minha própria existência estou certo. Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas.
A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza. Uma sensação minha? De quê?
Procurar o sonho é pois procurar.

Fernando Pessoa,Textos Filosóficos, s/d


{...[...(...)...]...}

Chove muito, chove excessivamente...
Chove muito, chove excessivamente...
Chove e de vez em quando faz um vento frio...
Estou triste, muito triste, corno se o dia fosse eu.

Num dia no meu futuro em que chova assim também
E eu, à janela de repente me lembre do dia de hoje,
Pensarei eu «ah nesse tempo eu era mais feliz»
Ou pensarei «ah, que tempo triste foi aquele»!
Ah, meu Deus, eu que pensarei deste dia nesse dia
E o que serei, de que forma; o que me será o passado que é hoje só presente?...
O ar está mais desagasalhado, mais frio, mais triste
E há uma grande dúvida de chumbo no meu coração...

Álvaro de Campos

quarta-feira, novembro 19, 2008

e cada anjo que cai do céu
carrega um Homem
que nasce à noite

terça-feira, novembro 18, 2008

CLIOHnet2


A Universidade Aberta acolhe o encontro internacional CLIOHnet2.

O encontro terá lugar no Palácio Ceia mas com ligação, por video-conferência, para as Delegações de Coimbra e Porto, pelo que todos os interessados em participar, ou em acompanhar a reunião, poderão fazê-lo a partir dos referidos espaços.

O encontro está agendado para dia 19 de Novembro a partir da 14:30.
Peço a todos quantos queiram estar presentes, para procederem à inscrição, informal, neste espaço (com um comentário), ou por email.

sexta-feira, novembro 14, 2008

da esfera do universo precipita-se o silêncio que funda toda a Beleza



mas quando o homem toca o universo com o seu dedo,
fragmentam-se centenas de moradas onde habitam as fadas

quinta-feira, novembro 13, 2008

Arte real, ou realmente Arte, ou mente e Arte, ou arte na mente?

O título e programa do colóquio outonal, Arte_real_mente_Arte, organizado pela Universidade de Coimbra, torna-me expectante demais. Trata-se de um excelente título, evocativo e provocatório, e que me deixa inquieta para que cheguem os dias 19 e 20 de Novembro.

A entrada é livre, pelo que não há desculpa para não aparecermos no Auditório da Reitoria.

terça-feira, outubro 28, 2008

seja o primeiro

mas só a partir das 18:00 horas de hoje,
por isso ainda não cliquei no MatrizPix

sexta-feira, outubro 24, 2008

senza tempo, à luz de um despertador amortecido

As mãos caíam-me sobre as pernas indolentes e não conseguia senti-las. Era como se não as tivesse, ou como se elas nunca tivessem existido na permanente confusão que sinto, entre o meu corpo e a sua ausência, ou entre a carne e as maravilhosas aptidões do espírito.

Olhava aqueles longos dedos como se não fossem meus, porque lhes faltava o ânimo expressivo que devia comandá-los sobre a languidez das pernas.

As pálpebras abraçavam-me intensamente o olhar, como amortecidos suspiros de afectos escondidos sob a mirada turvada pela loucura da preguiça.

Naquele instante, só do peito brotava um quente sussurro, escutando-se dali ao fundo um quente e vagaroso tique-taque que me dava conta da vida.

Eram oito horas da manhã, altura em que devia começar a sentir as pernas, e os dedos, e o corpo inteiro a sair da indolência, mas fiquei onde me colocara havia horas, escutando, do leito onde me estendera, aquele compassado bater do coração.

Se aguçasse os sentidos escutaria os lamentos do vento ao tanger as árvores que, do lado de fora da vidraça, passavam o tempo sem mácula, numa parceria de semi-eternidades. Esse mesmo tempo que me dá conta da vida, ou outro tempo, o das árvores uivantes ao vento que chora e que, do lado de fora do meu espaço quente, se quedam nos minutos, tornados séculos.

senza tempo, à luz de um despartador de ânimos e de torrentes

terça-feira, outubro 21, 2008

ICOMOS

Um lugar para consultar frequentemente:

COMISSÃO NACIONAL PORTUGUESA
DO CONSELHO INTERNACIONAL DOS MONUMENTOS E DOS SÍTIOS (ICOMOS)

Vítor Serrão, O fresco maneirista do Paço Ducal de Vila Viçosa, 1540-1640

"Sábados no Paço (Vila Viçosa)

Divulgação dos “Sábados no Paço”, promovidos pela Fundação da Casa de Bragança.
No dia 25 de Outubro, será efectuada uma visita guiada subordinada ao tema “O Fresco Maneirista no Paço Ducal de Vila Viçosa”, pelo Prof. Doutor Vítor Serrão, do Instituto de História de Arte da Universidade Clássica de Lisboa.
Esta iniciativa irá permitir um olhar mais detalhado sobre as pinturas a fresco do Paço Ducal de Vila Viçosa, nomeadamente no que concerne à sua temática e autoria, também como consequência da edição do livro “O Fresco Maneirista do Paço Ducal de Vila Viçosa, 1540-1640”.
A visita será gratuita e terá início às 10 horas, com uma apresentação inicial na Igreja das Chagas, junto ao Paço Ducal.

Para marcação e demais informações p.f. contacte:
telefone 268 980 659 ou email - palacio.vilavicosa@mail.telepac.pt".

sexta-feira, outubro 17, 2008

ouvi dizer...













...e não resisti...


A imagem agora reproduzida foi retirada do artigo publicado na edição online do jornal Público de 7/X/2008

emoção e sentimento

«Os sentimentos, juntamente com as emoções que os originam, não são um luxo. Servem de guias internos e ajudam-nos a comunicar aos outros os sinais que também os podem guiar. E os sentimentos não são nem intangíveis nem ilusórios. Ao contrário da opinião científica tradicional, são precisamente tão cognitivos como qualquer outra percepção. São o resultado de uma curiosa organização fisiológica que transformou o cérebro no público cativo das actividades teatrais do corpo.

Os sentimentos permitem-nos entrever o organismo em plena agitação biológica, vislumbrar alguns mecanismos da própria vida no desempenho das suas tarefas. Se não fora a possibilidade de sentir os estados do corpo, que estão inerentemente destinados a serem dolorosos ou aprazíveis, não haveria sofrimento ou felicidade, desejo ou misericórdia, tragédia ou glória na condição humana.»

António Damásio, O Erro de Descartes, emoção, razão e cérebro humano, Lisboa, Publ. Europa-América, 1995, p. 17

Certo é que as emoções adultas experimentam-se, e ocasionam importantes alterações corporais. As alterações principais desencadeadas verificam-se, para Damásio (facto facilmente corroborável pela experiência de vida), ao nível do funcionamento visceral (coração, intestinhos, pulmões e pele), muscular e esquelético e ainda no funcionamento das glândulas endócrinas.

Na emoção…

«O cérebro liberta moduladores pépticos para a corrente sanguínea. O sistema imunológico também se altera rapidamente. O ritmo de actividade dos músculos lisos nas paredes das artérias pode aumentar e originar a contracção e o estreitamento dos vãos sanguíneos (o resultado é a palidez); ou diminuir, caso em que os músculos lisos relaxam e os vasos sanguíneos se dilatam (o resultado é o rubor). De um modo geral, o conjunto de alterações estabelece um perfil de desvios relativamente a uma gama de estados médios que correspondem ao equilíbrio funcional, ou homeostase, de acordo com o qual a economia do organismo funciona provavelmente no seu nível óptimo, dispendendo menos energia e procedendo a ajustamentos mais simples e rápidos.» (Damásio, 1995: 150)

O sentimento de emoção…
«À medida que as alterações [provocadas pela emoção] no seu corpo vão tendo lugar, fica a saber da sua existência e pode acompanhar continuamente a sua evolução. Apercebe-se de mudanças no seu estado corporal e segue o seu desenrolar durante segundos ou minutos. Este processo de acompanhamento contínuo, esta experiência do que o corpo está a fazer enquanto pensamentos sobre conteúdos específicos continuam a desenrolar-se, é a essência daquilo a que chamo um sentimento. Se uma emoção é um conjunto das alterações no estado do corpo associadas a certas imagens mentais que activaram um sistema cerebral específico, a essência do sentir de uma emoção é a experiência dessas alterações em justaposição com as imagens mentais que iniciaram o ciclo. Por outras palavras, um sentimento depende da justaposição de uma imagem do corpo propriamente dito com ma imagem de alguma outra coisa, tal como a imagem visual de um rosto ou a imagem auditiva de uma melodia. O substrato de um sentimento completa-se com as alterações nos processos cognitivos que são induzidos em simultâneo por substâncias neuroquímicas (por exemplo, pelos neurotransmissores numa série de pontos neurais, em resultado da activação dos núcleos neurotransmissores que faziam parte da resposta emocional inicial).» (Damásio, 1995: 159).

quinta-feira, outubro 16, 2008

words

Silence is sexy
Silence is sexy
Silence is sexy
So sexy
So silence

Silence is sexy
Silence is sexy
So sexy
So sexy
Silence is not sexy at all

L'amusement
Solitude
Die ungesellige Liebe, die fixe Idee, l'idée fixe
Nur ich & ich & ich & Tinitus
Wenn die Musik endlich aufhört
Ganz von selbst

Silence is sexy
Silence is sexy
So sexy
As sexy as death

Silence is sexy
Silence is sexy
So sexy
So sexy
Just your silence is not sexy at all
Just your silence is not sexy at all
Your silence is not sexy at all
________________

_________________________Einstürzende Neubauten........

terça-feira, outubro 07, 2008

cause ...



Ende Neu, 1996
___________________________________________________________________________
Ende Neu

Was Ist Ist
Zwei Dinge sind unendlich:
Die Dummheit und das All
Kein . . . . . . , nur . . überall
Mehr . . . . . . und . . . zu hauf
Nur die Liebe und das Wetter hören nimmer, nimmer auf

Wir fordern etwas Abwechslung in uns'rer Umlaufbahn
endgültige Befreiung von Newton's Schwerkraftwahn
keine Gravitätlichkeiten, Fliegen fällt sonst schwer
Schluss mit Kontinentendrift,
Pangea wieder her

Was ist ist
Was nicht ist ist möglich
Nur was nicht ist ist möglich

Wir fordern mehr . . . mit unser'm . . Charme
Mehr . . und . . . , Birnen, Marzipan
Wir wollen noch mehr . . , Substanzen illegal
Kein Montagsresteessen, 5-Sterne minimal

A firstclass - bonusticket from . . to Berlin
eine Kiste mit Champagner, Biowodka, Biogin
ein Weltgebäude ohne Wände, soviel Platz muss sein
einen Morgen ohne Kater, ohne Reue,
nicht allein

Was ist ist
Was nicht ist ist möglich
Nur was nicht ist ist möglich


Wir schreiben schwarze Zahlen ins utopische Kalkül
Wir fordern Fingerspitzen und das passende Gefühl
Tagsüber auch die Sterne, mehr Sterne überhaupt
Und heute schon die Gestrigen zum Untertagebau

Wir fordern Sonnenuntergang für das Abendland
Tanzvermögen, unerschöpflich, die Nacht danach ist lang
ohne . . . . . .und jenseits von Kritik
einen völlig leeren Himmel,
angereichert mit Musik

Was ist ist
Was nicht ist ist möglich
Nur was nicht ist ist möglich

Wir wollen züngeln, zündeln, wandeln , tänzeln auf dem Grat
bulemische Verschlankung für den ganzen Staat
und . . . . . . . keinen Kopfsalat
Gefängnis für Hans Mustermann wegen Fälschung und Verrat

Wir fordern auch die Buchstaben zurück ins Alphabeth
Damit Unsereins im Babylon -Gestammel sich versteht
Wir fordern . . . . und . . . . .
Die Musik muss endlich richtig laut damit uns jemand glaubt

Was ist ist
Was nicht ist ist möglich
Nur was nicht ist ist möglich
_____________________________________________________________((((())))))
What Is Is
Two things are endless:
ignorance and space
None . . . . . ., just . . everywhere
More . . . . . . and . . . abound
Just love and the weather never,
never end

We demand some change in our
orbit
absolute liberation from Newton's gravitational mania
no gravitational bodily harm, or else flying’s a heavy task
Put an end to continental drift,
bring back Pangaea

What is is
What is not is possible
Just what is not is possible

We demand more… with our… charm
More… and…, pears, marzipan
We want even more…, substances illegal
No monday leftovers, five-star minimum

A first-class bonus ticket from… to Berlin
A crate of champagne, eco-vodka, eco-gin
A world house without walls, there must be enough space
A morning without hangover, no regrets, not alone

What is is
What is not is possible
Just what is not is possible

We pencil black figures into our utopian calculation
We demand a deft hand and the appropriate touch
In the daytime stars as well, more stars in general
And today yesterday’s men for underground work

We demand a sundown for the Occident
Dance capacity, inexhaustible, the night after finds no end
without… and beyond critique
a completely empty sky,
enriched with music

What is is
What is not is possible
Just what is not is possible

We want to nibble, kindle, amble, gambol all along the edge
bulimic diet for the whole governing body
and… no lettuce heads
prison for John Everyman for forgery and treason

We demand letters are put back in the
alphabet
so the likes of me can think amid the Babylonian babble
we demand… and…
play the music really loud at last, so someone can believe us

What is is
What is not is possible
Just what is not is possible

yeah, yeah....

Trentemøller: Moan

sexta-feira, outubro 03, 2008

quinta-feira, outubro 02, 2008

como a vida é feita de pequenas coisas, não estamos realmente preparados, enquanto seres de vida, para as coisas grandes. o desequilíbrio assim gerado pela natural incompetência para uma percepção mais capaz da dimensão das coisas impõem-nos as coordenadas estabelecidas na fraqueza, facto que resultará na mais óbvia aniquilação do homem enquanto ser de vida.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Músicas para um fim de tarde em lugares onde nada pode acontecer


DIGITALISM, Zdarlight...
yeah!

SOFT VERDICT, Struggle For Pleasure...

Aos estudantes de Sociologia da Arte dos Países de Expressão Portuguesa inscritos na Universidade Aberta

Por saber que muitos dos (meus) estudantes dos Países de Expressão Portuguesa visitam este blog, e porque não tenho, ou porque não me lembro com a rapidez desejável, de outro meio senão este para divulgar uma notícia, deixo aqui uma mensagem sobre o manual da uc (Sociologia da Arte, n.º 31119) que entendo ser importante. Esta mensagem também resulta de um facto: um dos estudantes em causa escreveu, na folha do seu exame (de um grupo que ainda agora terminei de corrigir), que não dispunha dos materiais necessários para o estudo.

A uc dispõe de um livro electrónico. Trata-se de um Manual, titulado Sociologia da Arte, e que durante o ano passado esteve alojado no site da Uab, no link referente aos Cadernos de Apoio. Aos estudantes, devidamente inscritos, bastava aceder ao lugar em causa, mediante um login e uma password (os mesmos que funcionam para outros links, tal como o Portal Académico, entre outras ferramentas…). Dali em diante, surgiria um pdf com o livro que o estudante imprimiria sem quaisquer problemas (desde que apetrechado com uma impressora).

Porque a Sociologia da Arte é uma uc do segundo semestre, vamos aguardar, no sentido da Uab disponibilizar este recurso que, ou ficará no mesmo lugar, ou noutro semelhante, e de livre acesso aos estudantes nela inscritos (oriundos de qualquer parte do mundo).

Nesta medida, creio que os estudantes (neste caso os estuantes PEP) de Sociologia da Arte não estão em desvantagem, no que concerne ao acesso aos materiais. Foi também a pensar neles que decidi escrever o livro, porque entendo que é mais fácil descarregar este material da net, do que encomendar livros, em formato scripto, nas livrarias do costume.

Fica então aqui a notícia sobre o Manual de Sociologia da Arte, esperando que esta mensagem, mesmo sem ter sido colocada dentro de uma garrafa deitada ao mar, chegue a Angola, a Moçambique, a Cabo Verde, a São Tomé, à Giné-Bissau e, porque não, aos demais espaços de onde provêm os meus alunos.
Aguardando retorno me subscrevo,
c.a.g.



algumas Palavras-chave:
facto artístico,
facto social,
Karl Marx,
materialismo histórico,
Georges Plekhanov,
Trotsky,
György Luckács,
Galvano della Volpe,
Max Raphaël,
Arnold Hauser,
Pierre Francastel,
Frederick Antal,
Nicos Hadjinicolaou,
Theodor Adorno,
Herbert Marcuse,
Walter Benjamin,
Giulio Carlo Argan,
Vincenç Furió,
mercado da arte,
públicos da arte,
estética da recepção,
história social da arte,
dimensão social da arte,
(...)

quinta-feira, setembro 18, 2008

Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado



Descobri agora mesmo porque é que em certos lugares da Europa mais a leste, e de fronteira com a Ásia, é costume encontrar caras como esta aqui ao lado

Caso não queira optar por esta magnífica dentadura doirada, comece por clicar aqui , accionando um mecanismo que, certamente, vai inibir a banca portuguesa, preparadíssima para mais uma sádica manobra.

De qualquer forma, e caso seja mesmo necessário, podem os portugueses adoptar a moda dos tentes todos-de-ouro, transformando as suas dentaduras biológicas em algo que pode valer-lhes mais a pena.

terça-feira, setembro 16, 2008

aurora


de Saturno a 28 de Janeiro de 2004

quando os meus dedos repousam sobre as pálpebras macilentas do olhar quebrado em gelos do mundo que chora o tempo que assim falece, sei por dentro que a vida azula no lugar deixado vago pela paixão.

e que olhos macilentos tem o mundo,
e que boca seca geme nele, no buraco das entranhas em dias feitos de névoas,

quando os meus dedos jamais sentirem esse encalço de chão chamarei a mim as fímbrias do teu corpo para nele banhar a alma fluidificada e ténue como nunca, prenhemente viva, e tão longe da memória da velha terra encarnescida.
dos sítios em que a tua mão tocou meu dedos nascerá o limbo e, com o passar dos mil dias de chuva e de outros sóis, cristalizará o tempo para que, no firmamento, retumbem, vibrantemente, os mil trovões.

sexta-feira, agosto 22, 2008

de retorno ao velho mundo cá me tens, ò altíssimo, coforme a zona do meu karma pintado em tons de um violeta escuro




e para continuar o que não fizera então me tens em tua insana mão
que faz girar a roda dos meus dias, agarrada aos teus,
como se de um líquido pegadento que fizeste em caldo terno de
uma vida que assim se repete de vários, e em tantos mundos, sempre tornado em água rarefeita.

se da feitiçaria dos tempos me sobrasse memória te diria, altíssimo, que a minha fortuna se cumpre em dó menor, como quase um ré, mas muito adentro das notas baixas, quentes, e ainda dentro de um pano feito de um violeta escuro sem subir às escalas mais abertas.

quarta-feira, julho 30, 2008

fui

... mas daqui a nada já volto...


Vou porque tenho de ir, e porque preciso de ir, e porque me apetece mesmo ir...


E pelo caminho levo uma bagagem cheia de pensamentos que devo ir deixando cair no asfalto que passar por debaixo da minha mala.

Vou, porque há muito que lá não estou, e porque posso lá reencontrar o que os dias compactos têm feito sair de mim. palpo as horas à minha procura, pode ser que eu lá esteja.

E vou sem nada, para além do que lá careço.

Das lonjuras da minha ida espero retornar sarada e limpa do depósito que a densidade da quadra depositou nos meus dedos.

sexta-feira, julho 25, 2008

onde tudo é tão tranquilo


O Sol da Meia Noite em Marte, do banco das imagens do dia da Nasa.
Este sol nocturno foi captado pela Phoenix e trouxe até à terra o retrato do lugar onde eu gostaria mesmo de estar, preferencialmente sem computador, mas com alguma música... quem sabe, com Brian Eno ou com Murcof

terça-feira, julho 22, 2008

o ar fresco nos corredores da educação básica

No Despacho n.º 19308/2008 emitido pelo Ministério da Educação podem ler-se várias coisas interessantes relativamente à
(re)organização do currículo do Ensino Básico.

Li o artigo agora mesmo, sem que me tivesse demorado muito, e fiquei muito constrangida. Em primeiro lugar, verifiquei que os alunos têm vindo a necessitar, desde há um tempo para cá, daquilo que, na minha linguagem, é o mesmo que aulas suplementares, embora o Ministério titule este grupo de aulas como áreas curriculares não disciplinares (ACND), e que servem para «a melhoria da qualidade das aprendizagens». Bom, se de facto as escolas não conseguem, nos horários competentes, realizar um ensino que capacite o estudante, é evidente que se torna necessário um horário suplementar para que o aluno aprenda, efectivamente, aquilo que não assimilou no decurso do seu dia de trabalho! Mas este grupo de áreas não disciplinares que existem com o intuito expresso de melhorar a qualidade das aprendizagens é, para mim, algo estranho e assustador, porque se os docentes exercem a sua função capazmente, porque parte o Ministério da Educação do princípio que os estudantes ficaram mal ensinados? Será porque o Ministério, ele mesmo, veio promovendo esta conjuntura de fraca assimilação de conteúdos, ou de uma fraca qualidade de conteúdos, ou de esquiva dos estudantes à atenção requerida habitualmente, porque depois terão outra hipótese, passando a limpo as suas lições em aulas suplementares? Não entendo a lógica deste sistema que parece fragmentário! Pensará o Ministério da Educação que, com as turmas excessivas e abarrotadas de crianças que ele próprio promove, não conseguem as crianças aprender como seria desejável no seu horário de trabalho normal? Ou entende o Ministério que os nossos estudantes do Ensino Básico não estão habilitados para aprender no registo estrutural que lhes foi imposto? Ou pensará o Ministério que os docentes, tendo de acudir a tantas áreas de serviço na escola, não conseguem exercer as suas funções docentes com a conveniência requerida?
Do ponto de vista do estudante, estas três áreas curriculares não disciplinares funcionarão como espaços híbridos, que não são bem de aprendizagem e nem são bem de recreio, são uns lugares de limbo que podem ser atraentes, dependendo dos projectos que os docentes que lhes couberam criaram, com a sua imaginação e talento, para ocupar as três vertentes assim dispostas: área de projecto, estudo acompanhado e formação cívica. Estas três áreas devem ser «encaradas como instrumentos privilegiados do conselho de turma para promover a integração dos alunos, melhorar as aprendizagens e promover a educação para a cidadania.». Para mim, estas ACND são intrigantes. Do ponto de vista de um professor também o podem ser, porque a ele cabe pensar em estratégias correctas e válidas para o seu grupo de alunos, para que este assunto e este tempo que todos dispensam, valha a pena ser dispensado… Para isso, o professor precisa de tempo e de espaço, precisa de inventar, de criar, de projectar e de disposição para que, com estas áreas, possa desempenhar uma boa tarefa à sua comunidade. O certo é que esse professor, certamente não terá um tempo específico para preparar essas ACND correctamente, bastando-se ao que de mais rápido lhe possa ocorrer… Como as ACND não estão a carburar na justa medida da utopia do sistema, o Ministério delega nos Conselhos Executivos o mister de «desempenhar um papel essencial ao nível da formação, acompanhamento e valorização das práticas desenvolvidas.». Ora aqui está outro aspecto que, para mim, constitui outro mistério…
1.º o falhanço das ACND como grupo de disciplinas que devia promover a qualidade das aprendizagens que se traduz no seguinte: afinal, nem com aulas suplementares conseguem os nossos estudantes aprender!
2.º o falhanço das ACND promovem uma maior responsabilização dos Conselhos Executivos das Escolas?
Mais do que isto, por causa das ACND, e porque deve empreender-se uma reorganização curricular, na medida da excessiva disciplinarização do 2.º ciclo (o 5.º e o 6.º ano), pensa o Ministério uma solução, que, todavia, se legitima pela Lei de Bases do Sistema Educativo Português: um professor por área curricular.
E aqui começa outro problema, mas este começa apenas no próximo ano lectivo, para professores e, certamente, a médio prazo também para os alunos que na prática creio ser este: um professor de História cumula, certamente, a disciplina de Português. Rios de matérias correriam por este texto que não pretende ser exaustivo. O certo é que aqui começará um vasto problema que tem ligações perigosas com as habilitações dos docentes para o exercício de tantas e tamanhas artimanhas na educação.
Prosseguindo na leitura do documento que tenho vindo a referenciar, encontro que esta solução, que tem de implementar-se no próximo ano lectivo (daqui a pouco mais de um mês), determina a «necessidade de uma distribuição de serviço lectivo, ao nível da turma e da escola, de forma a permitir a redução do número de professores por turma, tendo em conta que o recrutamento dos docentes do 2.º ciclo se destina a uma determinada área curricular disciplinar. Esta organização deverá constituir um elemento facilitador do trabalho transversal [por imposição da transversalidade das ACND, pergunto eu?], favorável ao cumprimento do projecto curricular de turma como instrumento decisivo para a regulação das aprendizagens e para a organização da vida escolar.».
Não compreendi. Vou rever apressadamente, e por alto, o que sei da formação que um professor do 2.º ciclo deve possuir para que não seja necessário aos seus alunos a frequência das famigeradas aulas suplementares. Assim, creio que um licenciado, ou um mestre, na melhor das hipóteses, em História, não foi apetrechado, durante a sua formação académica, com os conhecimentos necessários para veicular instrução digna na disciplina de português sem o recurso a aulas suplementares (o estudo acompanhado entendido agora como explicações). Também creio desconhecer os níveis de transversalidade que o Ministério estabelece, ou seja, o que ele entende com correcção como áreas curriculares, facto que me limita o entendimento sobre as aptidões académicas que cada docente deve possuir. Com Bolonha, creio que daqui a um punhado de anos haja licenciados que conseguem, pela rama, ensinar português e geografia (até mesmo educação física, se jogar futebol com os amigos ao sábado, ficando assim apto a educar para o futebol, disciplina que não tardará a despontar, uma vez que já li passar a existir uma outra titulada educação para o consumo…), assim como matemática e a biologia (se nos curricula das faculdades de matemática começar a existir esta uc de opção com dois níveis…).
O corpo docente actual não está apto a ensinar com conveniência neste sistema de transversalidade, mas consegue, se fechar os olhos com força, dar a volta aos programas, e às cabeças dos pequenitos. E este fechar de olhos e o dar a volta aos programas não constituem problemas de monta, porque o próprio Ministério fechará os olhos, e com os enunciados futuros das provas globais, acabará por misturar assuntos que os estudantes devem ter interiorizado anos antes, valendo-lhes depois, numa grelha de critérios de correcção, esta miscigenação escura de coisas que não passam pelo ensino-aprendizagem, mas por outras coisas ainda mal escritas e mal definidas, que definharão os níveis de ensino até à mais perfeita aberração educativa, espelhada nos fracos recursos dos estudantes que se apressam a engrossar caudais no ensino superior. Que rede fabulosa!
Ao que parece, as ACND estão a falhar como programa, não conseguindo cumprir o objectivo para o qual foram gizadas, e que assim se escreve: a melhoria das aprendizagens. Neste sentido, passa um mesmo professor a leccionar mais do que uma disciplina…
Trata-se de um castigo para todos, professores e alunos, os dois grupos supostamente envolvidos no falhanço das ACND.
O diploma prossegue, estabelecendo que «ao longo do ensino básico, em área de projecto e em formação cívica [disciplinas que cabem, penso eu, a segunda ao director de turma e a primeira a outro grupo de docentes que inclui obrigatoriamente o mesmo director, entre outros?] devem ser desenvolvidas competências nos seguintes domínios:
a) Educação para a saúde e sexualidade […];
b) Educação ambiental;
c) Educação para o consumo;
d) Educação para a sustentabilidade;
e) Conhecimento do mundo do trabalho e das profissões e educação para o empreendedorismo;
f) Educação para os direitos humanos;
g) Educação para a igualdade de oportunidades;
h) Educação para a solidariedade;
i) Educação rodoviária;
j) Educação para os media;
k) Dimensão europeia da educação.».
Trata-se, enfim, de um grupo de conhecimentos que me provoca verdadeiro pasmo. De facto, vou passar a prezar mais os directores de turma que, para além das actividades docentes que deve exercer com o brio que lhe é devido, para além do serviço administrativo que lhe cabe, terá ainda de, nas suas horas vagas, e quando não estiver a preparar conteúdos e a corrigir trabalhos de casa, exercícios e demais funções, preparar projectos no âmbito destas atribuições supra-elencadas. Ao seu lado, trabalha outro docente que cumprirá novos horários, com várias disciplinas a cargo, todas elas agrupadas numa área curricular. Do outro lado, estão as crianças, que devem encarnar personagens desapoiadas, e que por isso necessitam, no ensino básico, de aprender noções de «dimensão europeia da educação», ou de «conhecimento do mundo do trabalho e das profissões e educação para o empreendedorismo», entre outras…, ficando naturalmente à míngua, no panorama dos seus direitos de aprender com qualidade sobre assuntos dimensionados à sua escala.
No decurso desta leitura não vi uma palavra que reclamasse a aquisição, por parte das nossas crianças, de competências no âmbito da expressão (plástica, dramática, musical, e outras) e do livre pensamento sustentado (porque não seguir exemplos limpos do ensino de noções de filosofia nos mais novos? será assim tão transtornante, na relação com a educação para o consumo ou para os media?)...


Segue-se um suspiro e uma pausa para reflectir na quantidade de palavras que não queria escrever sobre este assunto.

quarta-feira, julho 09, 2008

quando as páginas do meu diário saltam cá para fora a pedir ajuda a ninguém

Sou uma professora portuguesa e sou mãe de duas crianças.
O meu filho mais velho nasceu em 24 de Dezembro de 2002 e, 20 meses depois, coloquei-o num infantário de Coimbra. Nessa altura, a idade das crianças pequenas, na relação com as turmas de ingresso, regulava-se pelo ano civil de nascença e, por esse motivo, o meu filho teve de avançar, no ano lectivo seguinte, entrando na sala dos três anos enquanto ainda tinha apenas dois. Lembro-me de como fiquei assustada, mas não tive alternativa. Era assim que as coisas funcionavam e, com o tempo, eu e ele fomo-nos habituando e correu tudo muito bem.
Chegou depis, e com rapidez, a altura de abandonar o Jardim Infantil, e de inscrever o meu filho na Escola Primária, no passado mês de Março. Durante este ano lectivo, o Afonso aprendeu as letras e os números e está a sair-se lindamente, porque quer aprender, porque está orientado no sentido do seu ingresso na famosa Escola Primária, porque pedagogicamente e psicologicamente, este é o seu caminho natural, porque se preparou para este decurso ao longo destes últimos (e primeiros) anos da sua vida. Todas as semanas me pergunta quando chega o dia de ir para a Escola Primária, e eu repondo-lhe, agora com grande timidez, que irá depois das férias do Verão.
É que chegada a fins de Maio começo a ouvir que as crianças que completam os seis anos em Dezembro não estão abrangidas pelo sistema nacional de educação ou, por outras palavras, estão fora do regime de obrigatoriedade de ensino. Comecei então a ir à Escola. Ouvi na Escola que estava tudo bem, que haveria lugar para todas as crianças, incluindo o Afonso, mas que tinha de esperar uns dias, para obter certezas sobre o assunto que começou a enervar os pais que, como eu, têm os seus filhos na mesma situação. Soube, depois das primeiras diligências tomadas, que a Lei fora alterada, no que concerne às idades na relação com as turmas de ingresso, e que as crianças que completam a idade fora do ano lectivo (até 15 de Setembro) não são admitidas no regime de ensino obrigátório. Esta alteração da Lei, sem a constituição de um regime de transição para todos quantos estavam abrangidos pelo Decreto anterior, valeu o desaparecimento, do sistema de obrigatoriedade de ensino, de uma quantidade substancial de crianças portuguesas cuja alternativa é permanecerem nos seus Jardins Infantis, ou ingressar no sistema de ensino particular.
A poucos dias de Agosto, o meu filho está em terra de ninguém, no fim de uma lista de alunos que não cumprem os requisitos para a sua admissão na Escola, valendo ainda uma esperança: a abertura de uma quarta turma para a colocação de 20 futuros estudantes que estão do lado de fora das portas da Escola.
Não consigo, confessadamente, manter-me à tona da sanidade mínima, também porque tenho mais de 570 alunos agora para para avaliar, do primeiro ciclo de estudos do ensino superior, e mais 17 do segundo ciclo, porque estou esgotada, porque penso que Portugal é um país jactante, enchendo a boca com a educação e com o direito ao ensino, porque Portugal propagandeia o envio de professores e de livros dizendo promover, em países distantes do nosso, a educação com dignidade, porque em Portugal as guerras com o ensino começam antes dos nossos filhos serem admitidos nas suas primeiras escolas, porque desconheço o destino do Afonso para o ano lectivo que vem, porque não posso acreditar que o Estado transforme impunemente e de modo tão sinistramente silencioso, estas crianças em repetentes do Jardim Infantil, gorando as suas primeiras e tão tenras expectativas, porque convivo com a descrença, porque sei que estou a ser governada por crianças que, tivessem elas aprendido, não levariam Portugal com tanta pressa para o pior lugar da Europa…
Resta-me agora escolher uma de duas vias possíveis: ou desato a escrever cartas para a DREC, promovendo abaixo-assinados pungentes, e fazendo esperas a quem pode dizer-me para ter calma, ou pago a peso de ouro para que o Afonso não fique um ano à espera de «entrar na Escola Primária», acesso a que ele tem legítimo direito.
Claro que, tendo eu de acudir aos meus mais de 570 alunos do primeiro ciclo, em época de avaliações, e aos 17 gloriosos do segundo, também em época de avaliações, tendo eu de preparar o semestre seguinte, com prazos curtos e por entre os possíveis 10 dias de pausa para respirar durante o tórrido mês Agosto, não consigo fazer esperas a ninguém, nem tenho já engenho para escrever cartas formais com argumentos viciados para humildemente pedir para que o meu filho possa ingressar na sua tão esperada Escola Primária… Estou, como possivelmente tantos outro pais devem estar, instalada no cerne de um ataque de ânimos desavindos, e não consigo poupar os meus filhos aos meus apupos de mãe infernizada. O pior é que nesta altura do tempo, dizer que o desânimo, ou que a revolta, tomou conta de mim (ou de nós), não vale nada.
E no meio das avaliações, e do trabalho que mantenho com o brio do qual ainda posso orgulhar-me, sinto um torpor estranho e anestesiante, daqueles que sentem as pessoas que se sentem injustiçadas, daqueles que sentem as pessoas que, por mais que esbracejem, não conseguem agitar o ar. No sistema de ensino em Portugal, o Afonso não aparece, porque alguém decidiu mudar uma Lei à sua revelia, e a seu desfavor… e ele ainda só tem 5 anos!

quinta-feira, julho 03, 2008

as pinturas murais da Capela de São João Baptista em Monsaraz





No próximo dia 13 de Julho (Domingo), pelas 18 horas, o Município de Reguengos de Monsaraz, apresentará, na Antiga Igreja de S. Tiago, em Monsaraz, integrada na Bienal Cultural Monsaraz Museu Aberto, o Livro «As Pinturas Murais da Capela de São João Batista em Monsaraz (1622), Estudo do Programa Artístico e Iconológico e Fixação de Autoria», da autoria do Professor Doutor Vitor Serrão.

quarta-feira, junho 25, 2008

domingo, junho 22, 2008

sexta-feira, junho 20, 2008

se a felicidade matasse o homem seria imortal




«Fundo de maneio pago por clientes»

Assim à primeira vista, ficamos sem saber de que fundo de maneio trata a notícia publicada no Correio da Manhã de dia 20 de Junho de 2008.

Podia tratar-se de qualquer assunto, não fosse a conjuntura portuguesa a fazer adivinhar tratar-se de um fundo de maneio para o pobre grupo da EDP: «As facturas de electricidade poderão vir a incluir uma parcela para a constituição de um fundo de maneio para a EDP. Esta é mais uma das propostas da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que consta de um vasto documento que está em consulta pública.».

Apesar do pouco tempo que tenho, fui à procura do documento que deveria estar publicado na pp. web da ERSE. É que, como sabemos por outras experiências já vividas, as consultas públicas em Portugal não funcionam bem, também porque os cidadãos não têm tempo para este género de investigação. Movida por esse motor de impulsão lá fui tentar achar o referido documento...

... Apesar dos esforços empreendidos, não descobri facilmente o texto em causa. Baixei os braços e decidi voltar à notícia para ler que: «Os documentos contêm centenas de páginas numa linguagem que exige conhecimentos do sector, o que levanta a questão de se saber quantos consumidores conseguirão dar o seu contributo em resposta ao apelo da ERSE. 'Nada está decidido', garantiu ainda fonte da ERSE, explicando que a decisão final só ficará concluuída a 31 de Julho.». Não há volta a dar. A partir de dia 31 de Julho acresce a taxa imposta para que a partir do próximo ano nos unamos para ajudar a pobre da EDP. [Entendo cada vez melhor o sarcasmo do logotipo do grupo, que é aquele sorriso de esguelha.]

Este esforço de pesquisa valeu-me uma certeza. A de que todos nós, todos quantos vivemos neste país governado por uma mole em cujo topo está instalado o velho Conde de Olivares, vamos concorrer para ajudar a pobre da EDP (na construção de um fundo de maneio a que somos obrigados, no pagamento das dívidas de consumidores caloteiros, entre outras ajudas subliminares...). Ajudaremos tanto a pobre da EDP, tal como temos vindo a ajudar tantas outras entidades a gerir os seus fundos bilionários, até que os nossos se esgotem, e já esteve mais longe disso.

[Irrita-me já profundamente ser portuguesa... Este sentimento de pertença a coisa nenhuma que nos une na triste ineficácia, no pacifismo amorfo, na alienação incolor, no virar das costas aos problemas, este sentimento de perten��a a uma casta escravizada e sem ganas é, para mim, um fenómeno arrepiante. Mas isto de ser portuguesa tem o seu lado positivo: ninguém nos governa de facto. E isso é bom! Somos livres!, amigos, somos livres! Estamos livres de tudo, particularmente de quem nos possa proteger... pena é que não estejamos livres para escolher a quem queremos ajudar com o nosso curto rendimento, pena é que não estejamos livres para crescer, pena é que não estejamos livres dos cúmulos tributários, pena é que na liberdade em que vivemos passemos fome, pena é que na liberdade em que vivemos somos profundamente tristes, pena é que este género de liberdade nos esvaziou de energia reivindicativa, da capacidade de lutar sequer por direitos básicos, da capacidade de gritar, da capacidade de inventar, da capacidade de raciocinar... de nos unirmos por causas (antes dos seus efeitos)... Pena é que esta liberdade em que vivemos não é mais do que um embuste.


Sou incapaz.


Confesso-me incapaz até de fugir daqui, e esta incapacidade assumida faz de mim um estranho ser abjecto. Agarro-me a (falsas) soluções apaziguadoras para não desnortear]

terça-feira, junho 17, 2008

tributo a um amigo tão especial...


Foto: Lu��s Catarino, Fot��grafo Oficial do Presidente da Rep��blica


O Professor Doutor Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão, Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), foi distinguido a 10 de Junho de 2008 com o Grau de Comendador da Ordem de Sant'Iago da Espada pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva na sessão solene das comemorações do Dia de Portugal em Viana do Castelo.

Esta "elevada distinção premeia o trabalho que o galardoado tem desenvolvido nas últimas décadas como Historiador da Arte, apelando para a importância da História da Arte na salvaguarda do Património Cultural e para o premente recenseamento do património edificado, móvel, cripto-histórico e documental e das prioridades de conservação e restauro, muito prestigiando a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa." (Professor Doutor António Ventura, Presidente do Departamento de História da FLUL).

quarta-feira, maio 28, 2008

I am what I am

E discorrendo sobre o facto de haver coisas que afinal não devem valer tanto a pena, fechou os olhos.
Estava, por certo, muito cansada.
E quando assim encerrou a sua relação com a vigília, e mesmo não querendo, por preferir centrar-se no sono, percorreu-a inteira a memória de velhos passos dados, e de velhas reacções despertadas, e de tantos e velhos minutos decorridos, e não encontrou neles um erro que a pudesse macular.
E nesse instante ela viu tudo, sentiu todas as dores provocadas, ouviu o som das palavras que deixou cair, e nessa solidão estimulada pelas memórias extenuou-se imensamente, alvitrando que jamais pudesse sair dessa condição de fadiga ao rubro.
Horas volvidas nesta vastidão de emoções retornou ao mundo das cores, num amanhecer retumbante de sentidos cruzados durante um sono descomedido.
Contas feitas por dentro, já de nada lhe importava que dela fosse feita, tão perpetuamente, a imagem criada pelas reclamações, por vezes tão contraditórias e de outras tão sinistras, que a ela era exterior. E em abono da verdade, já não estava incomodada porque dela queriam outros fazer outra, por vezes muito melhor, por vezes muito pior do que ela mesma.
Esfumara-se dentro dela a culpa que nunca havia merecido, e estava bem assim, sem mudar uma linha ao seu destino de pessoa sã e desassombrada.
E a sua correcção, adivinhara-a ela durante o sono excessivo, um sono longo e de longos prazeres de reconhecimento de si, provinha-lhe precisamente desse seu meigo desassossego, dessa sua condição de gente que não mede o que dela se projecta, precisamente por não ter culpa.
A sua correcção, concluiu ela naquela manhã de espaventos interiores, advém-lhe do facto de ser igual dentro e fora do seu corpo.
A sua índole, sem ser perfeita, era contudo menos repreensível do que lhe queiram fazer crer.
E nessa justa medida da sua têmpera continuaria viva e fervente e, caso fosse mesmo essa a necessidade, apartar-se-ia dos outros, para não incorrer na sua própria inutilização.
Pensou, por fim, desentorpecendo-se, que mais vale ser, do que passar a vida a doer.

___________________________ and life goes on....

quarta-feira, maio 21, 2008

o mundo dos centauros, dos duendes e dos cíbridos











Não sendo uma pessoa de fé, não consigo acreditar na Criação e nem sequer acredito que possamos ser filhos de uma entidade sumamente boa, sumamente grande e sumamente bela, omnipresente e omnipotente.
Sinto o enredo da vida como uma realidade que resulta de um processo feito de contínuas mutações. Também sinto, muito misteriosamente, ou talvez porque o meu cérebro possui um desvio que me proporciona esse vislumbre inexplicável, que a vida de cada um acontece e reacontece, como uma torrente que persiste.

Por vezes acredito que vivemos uma experiência conduzida, pré-estabelecida, ou programada, mas não sei explicar como e porquê, embora pressinta essa explicação, que para mim, não passa pela existência do Deus que nos vem sendo apresentado. A minha relação com as coisas da natureza e da metafásica é algo estranha, contraditória e inexplicável, e passo muito tempo a pensar nisso, nesta confusão em que persistentemente me encontro, talvez devido ao facto de não conseguir acreditar na Criação.

Este discurso serve-me de introdução ao assunto que corre presentemente sobre a criação de cíbridos que, segundo creio, são o mesmo que híbridos especiais, gerados laboratorialmente a partir de um citoplasma não humano com um núcleo humano. Depois da era controversa dos clones, chegámos finalmente ao tempo dos embriões híbridos.

Pois muito bem.

Desde os alvores da humanidade que as quimeras e os híbridos povoam os nossos sonhos, por vezes mais horrendos e assustadores, mas ainda assim eles fazem parte, desde cedo, do nosso mundo paralelo que, um dia, pode tornar-se, e enfim, na realidade das coisas, transferido definitivamente para a nossa dimensão de vida quotidiana, toda cheia de rotinas.
Tento esquecer, embora a custo, uma vasta gama de imagens que me acometem quando penso nestes híbridos, provinda de uma série de obras de arte mitológica ou, mais recentemente, dos filmes de ficção científica, que também me foram expondo aos mais estranhos seres encerrados, ou não, em caixas de sobrevivência, ou noutros lugares distantes do olhar das multidões até à eclosão definitiva, para a vingança final. Tento esquecer estas tantas e tão diferentes representações, que também são frutos do medo que o homem tem da sua própria imaginação, e do progresso, aliado ao espírito de descoberta, porque sei que esse género de comparação é infantil.
Arredada deste imaginário ficcional, vejo-me na realidade. E na realidade, desenrola-se um novo processo, em episódios não menos rápidos, quanto assustadores: no interior de um laboratório, o cientista retira o núcleo de alguns óvulos animais, introduz-lhes o núcleo de uma célula humana e inicia o desenvolvimento de um embrião. Isto porque há mais óvulos de animais à disposição do cientista, e porque assim se evitam os danos colaterais que as mulheres, doadoras de óvulos, possam sofrer.

É interessante verificar que o comportamento humano é sempre motivado pela nobreza. São inúmeros os casos de experiências científicas motivadas pelo bem da humanidade, pela sua saúde e bem-estar, mas que, depois desse nobre objectivo, e porque o homem não é perfeito, e porque mesmo que o fosse, outros há que se deixam conduzir pelos maus fluidos, essas mesmas experimentações acabam por degenerar-se, resultando em processos inesperados, e que vão no sentido inverso do seu motor. O desinteresse pelo conhecimento da História causa a repetição inevitável destes, e de tantos outros processos, e faz com que o homem continue a pasmar-se com os resultados avessos às suas intenções de real decoro, ou dignidade.

Então, e voltando aos híbridos especiais, a experimentação que agora se aprova na Grã-Bretanha, pode conduzir à obtenção de um ser vivo com um ADN humano em núcleo, miscigenado com outros materiais biológicos não humanos (o citoplasma, por exemplo). Trata-se de um cytoplasmic hybrid embryo. (pausa).
Volto ao mundo da ficção e às imagens que tento esquecer de seres com aberrantes alterações provocadas por pequeninas transformaçõees induzidas pela incurável imaginação e criatividade dos cientistas. E porque volto a isto também me culpabilizo pela minha própria ignorância. Ora se eu quero fazer ciência, embora em terrenos menos pantanosos, também não devo coarctar essa possibilidade aos outros.
Este cíbrido agora em aferiçao contém 99% de ADN humano, levando-nos a acalmar os ânimos, por tratar-se de um embrião praticamente humano.

Muito bem. (pausa).

Depois desta fusão, o cientista pode realizar, com o embrião assim gerado, um sem número de experiências que devem resultar na diminuição de algumas doenças que causam a morte de milhares de pessoas. Espera-se que estes embri~ees (com o citoplasma não humano e núcleo humano, ou embriões citoplásticos) sejam, durante estes processos, naturalmente destruídos. Muito bem. Todavia, não se sabe ao certo se esta estranha mistura feita de homem e animal corresponde, de facto, a um embrião, no sentido que a ciência lhe tem dado. Também calculo que não se conheça o verdadeiro resultado desta fusão ou se, por um acaso, há possibilidades de desenvolvimento desse embrião, em terreno conforme ao seu natural crescimento.

O que é, para mim, assustador, é a possibilidade de manutenção e de maturação desse início de qualquer coisa que depois resultará numa espécie nova de vida, confundida, presa a um frasco cheio de um líquido que lhe oferecerá sobrevivência, e que será alvo de apontamentos diários em cadernos cheios de imagens tal qual aquelas que me povoam o imaginário viciado pela ficção.

E assim retorno ao meu mundo secreto, esperando nunca poder vivê-lo na realidade, a menos que o engenho humano assim no-lo permita: o mundo dos centauros e dos duendes, o mundo dos monstros que fogem do dispensatório dos seus criadores para nos enfrentar, tentando sobreviver, o mundo do novo Conde Drácula, mais fantástico, e de Frankenstein, o mundo Alien e o de outras tantas coisas que vão já sendo mais ou menos possíveis de realizar...
Porque tenho eu tanto medo dos homens?

quarta-feira, maio 14, 2008

yeah baby


Love and Rockets, no big deal...

Sim,
parece que não tenho nada de interessante para dizer
mas nem por isso fico calada
trata-se isto de uma estranha enfermidade.

quinta-feira, maio 08, 2008

a um velho amigo então chamado Klaus Nomi


Klaus Nomi, the cold song (ao vivo, a seis meses de morrer, com sida, aos 39 anos, em 1983)


Klaus Nomi, after the fall

não consigo esquecer-me


the Flying Lizards, Money (That's What I Want) ... yeah

(be)cause


Music by Brian Eno, bonebomb
Video by Paul Arto

quarta-feira, maio 07, 2008

da luz pálida e quieta que ainda assim perpassa por entre os fios de linho esparsos que enformam a mortalha





Queria fazer das ideias um mundo que delas somente se preenchesse para crescer, e assim mesmo fazer do mundo um lugar cheio de fantasia. Mas depressa chegou o dia em que aquelas ideias, as mesmas ideias que consubstanciariam aquele mundo almejado, e porque nunca elas, tal como os sonhos, conheceram a gravação em tinta que lhes desse carne real, foram fechadas num pano branco feito de um linho macio e embrulhadas no mesmo corpo que assim conheceu a terra onde viria a demorar-se, na eternidade dos silêncios.
Oh altíssimo, porque fazeis com que a fantasia não tome o lugar da vida, sempre, mas somente naquele instante, naquele pedaço de tempo que quase sempre surge ao crepúsculo, ou já de noite, em que a carne crispada conhece o lençol com que se enrola o corpo, depois inerte, tornado ao par feito de velhas penas brancas onde se gravam os sonhos em tinta escura, mudado que foi o mundo em visão gélida e distante.

É que assim se torna a vida em morte, e a morte em vida, e vida em morte tornada vida.

sexta-feira, maio 02, 2008

sim


kelly polar, i need you to hold on while the sky is falling:
Entropy Reings (in the Celestial City)


but We live in an expanding universe, whit so many and so beautiful Satallites, whispering A dream in three parts ...

sexta-feira, abril 11, 2008

Excertos de um livro imenso numa livre tradução do subconsciente

Ficaste lá tempo demais, disse-lhe ele de olhos postos no chão, braços caídos e alma tão quieta que podia ouvir-se o som da sua memória.

Ficaste lá tempo demais, disse-lhe ele outra vez, tentando agora alcançar os olhos dela que se escondiam por detrás de uma vergonha imensa, porque sabia que tinha lá ficado o tempo que a demora do pensamento lhe tinha deixado estar.

Sim, e essa demora fez-me bem, respondeu ela, enervando-se com o som das suas palavras. Ela enervava-se muito quando ouvia a sua própria voz, e quando a sua voz dizia coisas avessas ao que a sua boca deveria proferir. Porque ela acha, ainda hoje, que é a boca que deve dizer coisas, e não a voz.

Não pode ter-te feito bem, disse-lhe ele, ainda de olhos pousados nela, mas agora com compaixão. E ela sentiu a compaixão dele e pensou que a sua piedade fora causada pelo som das suas palavras, através da sua voz, e preferiu o silêncio.

Passaram-se outros tantos dias e ele perguntou-lhe se ela estava bem, porque havia dias que não dizia nada. E ela disse, com a sua boca, que jamais havia gostado dele.

sexta-feira, abril 04, 2008

ora como isto é tão verdadeiro:




«Não é de admirar que a consciência de classe proletária e a ideologia do socialismo tenham encontrado menos defensores eminentes entre os trabalhadores do que entre os intelectuais, e não se teriam tornado no objecto de uma teoria e de um programa sem estes desertores instruídos. Mesmo Lenine concordou que o proletariado não era capaz de desenvolver uma consciência realmente socialista, sendo, quando muito, capaz de pensar ao nível do movimento sindicalista, admitindo [...] que a sua libertação não teria sido possível sem a presença dos seus contemporâneos das classes mais ricas e cultas; na realidade, porém, as teorias filosóficas, históricas e económicas dos desertores nunca teriam surgido sem os novos moldes de produção ou sem a existência de um novo proletariado industrial com as suas crises, conflitos e lutas. A função dos desertores era a de traduzir para conceitos do pensamento dialéctico as grandes contradições.».


Arnold Hauser, A Arte e a Sociedade, Lisboa, Presença, 1984, p. 104.

quarta-feira, abril 02, 2008

oh! what can i do!...



I was lying in my bed last night staring
At a ceiling full of stars
When it suddenly hit me
I just have to let you know how I feel
We live together in a photograph of time
I look into your eyes
And the seas open up to me
I tell you I love you
And I always will
And I know you can't tell me
I know you can't tell me

So I'm left to pick up
The hints, the little symbols of your devotion
So I'm left to pick up
The hints, the little symbols of your devotion

And I feel your fists
And I know it's out of love
And I feel the whip
And I know it's out of love
And I feel your burning eyes burning holes
Straight through my heart
It's out of love
It's out of love

I accept and I collect upon my body
The memories of your devotion
I accept and I collect upon by body
The memories of your devotion

And I feel your fists
And I know it's out of love
And I feel the whip
And I know it's out of love
And I feel your burning eyes burning holes
Straight through my heart
It's out of love, ooh hoo
It's out of love

Give me a little bit serious love
Give me a little full love
Be full of love

Fists, fists, fists full of love...


***********************
antony and the Johnsons. firstful of love

and stil(l) I have this voice in my head (oh! what can I do):

Blind Video

antony and andy butler in blind

sexta-feira, março 28, 2008

Estou incandescente.

E estar incandescente deixa-me assim tal qual numa fogosa exaltação interior.
Esta incandescência provém-me de dentro, porque estou com ideias vivas e aceleradas demais para conseguir segurá-las todas. Elas são incandescentes e deixam-me assim impaciente, de dentro, nunca de fora, porque as ideias estão de dentro e quase não passam para o outro lado, o de fora.
Esta incandescência resulta, assim, de um frémito pessoal e interior, daquele ardor que torra por dentro, como um braseiro que vem da carne, mas que primeiro veio das minhas ideias, para a carne, sem ultrapassar os limites da minha pele.
Mas noto-a por fora, a essa incandescência, nos tremores que me angustiam os gestos, nas poses que não consigo controlar, porque estou em frémitos.
Ainda assim não consegues ver o meu frémito, porque ele está, todo ele, cá dentro, saindo cá para fora apenas naquilo que só eu consigo sentir, com os meus sentidos, e tu, com os teus, não sentirás, porque o meu frémito vem das minhas ideias alvoroçadas, nesta incandescência de vigores pessoais que só a mim enfatizam.
E aquilo que tu vês é um sorriso patético, o sorriso que eu verto quanto estou incandescente, porque o sorriso de fora não é o mesmo sorriso de dentro, e pouco me importa se para fora ele é patético, porque estou em frémito, e porque o sinto como um sorriso interior, que para mim provém dos pulsares rápidos, como os das ideias que assim se me esvoaçam desacatadas, desenraizadas e sem que as possa fazer repousar ou repensar.
E eu não quero, agora que as sinto pulsar vibrantes, levando-me a esta arrebatação, reelaborá-las. Quero-as assim vindas de dentro, e para dentro, virgens ainda da minha pele para fora dela, virgens de ideias exteriores e dos ouvidos alheios, e de outras quaisquer vidas para além das delas. Quero-as minhas, falantes comigo assim, dentro de mim, transportando-me assim sozinha, neste sorriso patético que é como que um esgar do meu frémito.
E na velocidade deste delírio extático me fico incandescente.
E o contacto com o mundo real traduz-se neste mesmo sorriso patético que cá dentro quer significar o mesmo que os meus inelutáveis prazeres, provindos das minhas, exclusivas, miscigenadas, misteriosas e vertiginosas ideias.

quinta-feira, março 13, 2008




O prazer incontrolável leva a incontroláveis perigos, e a arte, sendo capaz de oferecer diversos estados de alma, e de tantas e inqualificáveis emoções, é capaz de animar o homem para aquilo que o pode destruir.

derivação de um pensamento de Platão

i am this kind of thing

quarta-feira, março 12, 2008

é assim a vida!



«No matter how I try,
I just can't get her out of my mind
And I when I sleep I visualize her.

I saw her in the pub,
I met her later at the nightclub.
A mutual friend introduced us
We talked about the noise
And how its hard to hear your own voice
Above the beat and the sub-bass.
We talked and talked for hours,
We talked in the back of our friend's car
As we all went back to his place.

On our friend's settee,
she told me that she really liked me
And I said: "Cool, the feeling's mutual."
We played old 45s
And said it's like the soundtrack to our lives
And she said: "True, it's not unusual."
Then privately we danced
We couldn't seem to keep our balance
A drunken haze had come upon us.
We sank down to the floor
And we sang a song that I can't sing anymore
And then we kissed and fell unconscious.

I woke up the next day
All alone but for a headache.
I stumbled out to find the bathroom
But all I found was her
Wrapped around another lover.
No longer then is he our mutual friend.»

The Divine Comedy, our mutual friend

quarta-feira, março 05, 2008

Não sei se é prenda do céu, ou se castigo

Hoje estou na curva da idade. Durante a minha adolescência pensei que nunca chegaria aos 25. Era uma ideia muito forte, na altura, e quando curvei os 25 senti que alguma coisa estava errada na minha intuição, faculdade que ainda hoje me guia tanto no modo como levo os meus dias. [O facto de pensar que morreria entretanto deve ter-se ficado a dever às minhas referências pessoais de músicos, de poetas e outros tantos que se ficaram no tempo, ou senza tempo]. Chegada aos 28 esqueci-me da minha idade e chorei, no dia em que o Aragão me fez as contas, acertando nos 28, quando eu pensei estar ainda um ano antes. Aos 30 o meu pai profetizou que, dali a 10, estaria nos 40, e nesse dia voltei a chorar, nessa noite compulsivamente, como se tivesse ouvido um mau presságio vindo dos céus. A ideia da duração era a mesma ideia da perda da juventude, balizando-me e atirando-me para fora de mim, como se o meu corpo se perdesse em cada dia mais danificado. Cinco anos volvidos rapidamente e estava com 35 e com dois pequenos e inesperadíssimos filhos ao colo. Esses cinco anos foram os de uma viagem rápida, e estive mergulhada com intensidade dentro de uma forte ocupação fora de mim, esquecida e abnegada, devota a uma conjuntura de impulsos fortes e com trabalho a rodos, virada para desoras de tempos curtos. Outros cinco se passaram outrossim depressa, e eis que chego à idade tabu. À quantidade redonda dos tempos, e 10 anos volvidos sobre o negrume da profecia do meu pai. Mas pela primeira vez em tanto tempo não me sinto mal por fazer anos, pelo contrário. Sinto-me bem. Talvez por saber que me restam poucos dias para continuar com algum frescor, e por isso vivo com outra, ou com uma novíssima intensidade. O tempo encurta-se, esvai-se, perde-se entre mãos que nem sempre estão fechadas. O tempo migra para outros indivíduos que crescem, e eu fico agora sem ele, para mim, como pela extensão que tinham me pareciam mais duros de passar. Estou na curva do meu tempo e olho para dentro de mim e ainda vejo fantasia, e ainda vejo espanto, e ainda vejo os lumes de sempre, e ainda carrego ideias e projectos e paixões de arrebatar, e os meus segredos insondáveis, inconfessáveis, tal como quando era ainda jovem, porque é tudo igual, e porque há tantas coisas que na minha vida não passam, mas que ficam agarradas a mim, como uma pele, e ainda bem... E hoje, pela manhã, quando me encarei ao espelho pardo pelo vapor dos banhos, vi-me pela primeira vez com quietude, e foi ali que intui que não tenho outra alternativa senão deixar-me envelhecer sem tragédias. Encarar de frente o que o tempo me foi vincando, e o que ele fez de transfigurações na minha carne, faz parte de todo um processo de reconciliação comigo, creio-o agora, como acontece com toda a gente que passa a esquina dos dias, como eu. Dir-me-ás que faço balanços, incomummente, porque os não faço nunca, e eu te responderei que deve ser da idade, e porque reconheço agora que há padrões verdadeiros que nos moldam. E um deles, asseguro-te sem medo do lugar-comum em que caio, é que aos 40 parece que queremos agarrar todos os dias, numa outra adolescência de fervores, mas desta vez porque sabemos que a elasticidade dos dias se perdeu para sempre...
Sou aquilo que sou, e sou aquilo que sempre fui, e sou aquilo que sou, porque fui.
Carla Alexandra Gonçalves

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

galáxia do triângulo



por entre as fadigas e as correrias dos últimos dias,
a única coisa que me lembro,
e que é bonita,
é esta imagem do universo...

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

derivação de um pensamento de Popper

... enquanto estivermos vivos podemos sempre tentar de novo ...

terça-feira, fevereiro 12, 2008

tributo a Karl Popper




«O grande movimento de libertação que teve início no Renascimento e que conduziu, através das muitas vicissitudes da Reforma e das guerras religiosas e revolucionárias, às sociedades livres em que os povos de expressão inglesa têm hoje o privilégio de viver, foi um movimento todo ele inspirado por um inigualável optimismo epistemológico, por uma visão extremamente optimista do poder humano de discernir a verdade e adquirir conhecimento.

No cerne desta nova e optimista perspectiva acerca da possibilidade do conhecimento reside a doutrina de que a verdade é manifesta. De acordo com ela, é possível que a verdade esteja velada. Pode, todavia, desvelar-se. E se não se desvelar por si própria, poderá ser desvelada por nós. Não será, talvez, fácil remover o véu. Mas assim que a verdade nua surgir revelada perante os olhos, nós teremos o poder de a ver, de a distinguir do que é falso, e de saber que ela é verdade.

O nascimento da ciência e da tecnologia modernas foi inspirado por esta epistemologia optimista, cujos principais representantes foram Bacon e Descartes. Ensinaram eles que homem nenhum necessita de recorrer à autoridade para saber o que é verdadeiro, visto cada um transportar em si as fontes do conhecimento ��� seja o poder de percepção dos seus sentidos, que pode aplicar à cuidadosa observação da Natureza, seja no seu poder de intuição intelectual, que pode utilizar para distinguir a verdade do erro, recusando-se a aceitar qualquer ideia que não tenha sido clara e distintamente percebida pelo intelecto.

O homem pode conhecer: por isso pode ser livre. É esta a fórmula que explica a conexão entre o optimismo epistemológico e as ideias do liberalismo.
Esta conexão tem por contraponto a conexão oposta. A descrença no poder da razão humana, no poder humano de discernir a verdade, está quase invariavelmente ligada à desconfiança no próprio homem. Desta forma, o pessimismo epistemológico surge historicamente associado a uma doutrina da depravação humana, e tende a conduzir à exigência da instituição de tradições fortes, bem como à implementação de uma autoridade poderosa que salve o homem da sua loucura e perversidade.

[...] Mas como podemos nós cair em erro se a verdade se manifesta? A resposta é: pela nossa pecaminosa recusa em ver essa verdade manifesta; ou então, porque as nossas mentes albergam preconceitos inculcados pela educação e pela tradição, ou por outras influências maléficas que terão pervertido os nossos originalmente puros e inocentes espíritos. A ignorância pode ser obra de poderes que conspiram para nos manter ignorantes, para envenenar as nossas mentes, enchendo-as de falsidades, e para cegar os nossos olhos, de maneira a não poderem ver a verdade manifesta. Tais preconceitos e tais poderes serão, então, fontes de ignorância.».

Mas, na realidade, e para Popper, a verdade não é manifesta. Esta falsa epistemologia (a positiva e de tipo cartesiano, e a negativa) trouxe, embora, grandes progressos intelectuais, mas também causou inúmeros episódios trágicos, no que concerne à história da humanidade, porque ela esteve na base do fanatismo.
A nossa intuição intelectual engana-nos, de facto, e o nosso intelecto não é uma fonte do conhecimento (somente porque Deus é uma fonte de conhecimento).
No caminho do conhecimento está aquilo a que vulgarmente se chama um método. Para alcançar a verdade temos de observar criticamente tudo quanto nos rodeia, temos de conjecturar heuristicamente sobre o que observamos, temos de ultrapassar os esquemas preconcebidos, temos de nos colocar num lugar de dúvida, temos de ajuizar criticamente, temos de estar cônscios de que, a cada passo que damos, devemos dar outros mais, temos de experimentar, temos de verificar, temos de refutar, temos de criticar sempre aquilo que nos é (ou foi) dado como certo, mesmo as nossas próprias teorias e mesmo as nossas próprias suposiões, temos de conseguir alterar o que foi estabelecido antes de nós (ou modificar o conhecimento anterior), temos de querer alcançar o conhecimento (mesmo sabendo que nunca alcançaremos a verdade).


Numa justa conclusão, uso as palavras de Popper quando escreveu, baseando-se nas ideias de Kant, que:

«Será uma decisão crética da nossa parte obedecermos ou não a uma ordem, ou submeter-nos ou não a uma autoridade.»


Quanto mais conhecemos, mais certos nos tornamos da nossa imensa ignorância.
(1961)
Cf. Karl Popper, «Acerca das fontes do conhecimento e da ignorância», Conjecturas e Refutações, o desenvolvimento do conhecimento cientéfico, trad. Benedita Bettencourt, Livraria Almedina, Coimbra, 2003, pp. 20-21, 22-23 e 47.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

visceral


Frida Kahlo, As duas Fridas, 1939


Paula Rego, Broken Promisses, 2006

Quando uma mulher pinta,
fá-lo com as entranhas
Quando uma mulher chora,
fá-lo com as entranhas
Quando uma mulher cala,
fá-lo fechando as suas entranhas
As entranhas de uma mulher são fascinantes,
porque elas dizem coisas,
porque elas choram,
elas suportam
e,
como as dos homens,
elas escorregam.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

da inércia


Hieronymus Bosch, O barco dos loucos,
Óleo sobre madeira, 1490-1500,
museu do louvre, paris


Quem deliberadamente provoca cegueiras é bemquisto no presente, porque passou a viver por nós, e porque, pensa o povo assim desafogado, fica lá com as nossas estafas. O sistema passou, deliberadamente, a viver por nós, a escolher por nós, a pensar por nós, a exigir por (e de) nós, e a cegar-nos, objectivamente, num culto de dirigismo provinciano, mas eficaz. Assim se constrói o derrube do Iluminismo, assim se constrói um sistema déspota e inumano, assim se derruba a liberdade de pensamento e a criatividade na acção dos sujeitos que deviam, eles mesmos, viver cada uma das suas curtas vidas. O que me espanta é verificar que um sistema corrupto, autoritário, proibitivo, caciquista, ainda que acéfalo, mas integrador, não gera confrontos, mas apenas algumas amofinações íntimas e caseiras. Os sujeitos, assim devidamente integrados neste sistema característico, passam a experimentar o enfado, e o caminho resolve-se por sucessivas inércias que, para mim, são verdadeiramente pungentes. Este sistema de que falo é perfeitamente globalizador, fazendo uso de uma maquinaria incipiente, mas altamente eficaz para enformar os homens. As estruturas deste sistema, ainda que desorganizado e amador, porque sujeito a uma liderança pouco inteligente, vão tomando conta de todas as acções dos indivíduos a elas sujeitas, e que assim se livram das suas peles, todas diferentes, para envestirem a nova roupa do padronamento ordeiro e benovolente.

As pernas das sociedades começam a partir-se lentamente, através de uma estrutura educativa programada e limitativa, porque o pensamento, o conhecimento e a educação podem, ou devem, consubstanciar verdadeiros obstáculos ao crescimento dos sistemas prepotentes. Assim se foi e vai construindo este país, educado pelas televisões de má fortuna que fazem viver o povo as outras vidas, que não a dele, que é mísera e cinzenta. Assim se vai construindo este país, limitando devagarinho o acesso às ciências sociais e humanas desde a mais tenra idade, porque o livre pensamento crético e adulto não se conforma com dirigismos.

Assim se constrói este país, com comandos de mau gosto mas eficazes, porque já se educou suficientemente o nosso povo no sentido da mais sã e pueril convivência com o inestético e com o vil, com o fácil e com o vulgar. Assim se derrama um sangue cru, mesmo quando a situação gera conflitos internos, mas irresolúveis por falta de organização. O povo arde agora em febre, mas arderá até morrer, sem protecção. O povo arde na fogueira da miséria, mas não sabe como fazer para virar o vento. O povo enferma com os maus exemplos dos que lhe estão acima, e por isso não tem olhos para a entender todo um sistema de valores que já há muito se perdeu.

Quem teve a sorte de nascer entre o século XX e a presente centúria carrega um fardo pesado, ou fardo nenhum, morrendo depois em vão. E para que não se morra em vão, é preciso viver com amor e com ódio, e com ganas de pensar e de sentir... mas creio que já é tarde demais. É que mesmo quando aqueles sistemas, como o nosso, ainda que mal estruturados, passam desavergonhadamente de uma corrupção em esfera própria, para baixar à extorsão crua dos sujeitos que supostamente protegem, ainda assim não há vislumbres de repúdios. É preocupante e deprimente anotar que os sujeitos assim governados assistem incólumes ao desenrolar de uma acção programada, permanecendo na realidade dos dias numa inexorável inércia.

É assombroso como de facto a história nos ensina tanto sobre a existência e sobre os homens. No desenrodilhar destes tantos anos e dias, por vezes penso que melhor será mesmo deixar-me enformar pelo sistema, ou deixar-me formatar com o tão-pouco, o tão-rude, o tão-fácil que nos vem de cima. É que assim, se não tiver mesmo de pensar, porque os sistemas o farão por mim, passarei a um estado quase impoluto, vivendo meus dias candidamente e sem esforços, para além dos que dedico, porque sim, ao meu ganha-pão, para depois morrer em vão, coisa que deve ser melhor do que experimentar a dor.

Tenho agora, no meu caminho, e ao fundo desta recta que se esvai, trás grandes possibilidades. Ou pronuncio o nome do meu país com pudor, dissimuladamente, ou num sussurro retirado e decoroso, ou fujo da realidade alienando-me ainda mais, ou abro de vez o meu grito aflito para tentar parar o tempo e rebobinar este filme que terá, para mim, de refazer-se inteiro.

É tempo, justamente, de rebobinar este filme e de relembrar que devemos ousar pensar por nós próprios. É tempo de rebobinar o filme e pensar na liberdade. É tempo de rebobinar o filme e viver a solidariedade, a fraternidade, a igualdade, a criatividade, o livre pensamento, a salubridade, a fantasia, a humanidade... É tempo de rebobinar o filme e repensar o silêncio, a solidão imposta, o medo e a alienação, porque é tempo de revolta e de renúncia. É tempo de repensar a vida e é tempo, acima de tudo, de fazer repensar a vida aos que vivem na insensatez do, e no sistema.