quarta-feira, julho 30, 2008

fui

... mas daqui a nada já volto...


Vou porque tenho de ir, e porque preciso de ir, e porque me apetece mesmo ir...


E pelo caminho levo uma bagagem cheia de pensamentos que devo ir deixando cair no asfalto que passar por debaixo da minha mala.

Vou, porque há muito que lá não estou, e porque posso lá reencontrar o que os dias compactos têm feito sair de mim. palpo as horas à minha procura, pode ser que eu lá esteja.

E vou sem nada, para além do que lá careço.

Das lonjuras da minha ida espero retornar sarada e limpa do depósito que a densidade da quadra depositou nos meus dedos.

sexta-feira, julho 25, 2008

onde tudo é tão tranquilo


O Sol da Meia Noite em Marte, do banco das imagens do dia da Nasa.
Este sol nocturno foi captado pela Phoenix e trouxe até à terra o retrato do lugar onde eu gostaria mesmo de estar, preferencialmente sem computador, mas com alguma música... quem sabe, com Brian Eno ou com Murcof

terça-feira, julho 22, 2008

o ar fresco nos corredores da educação básica

No Despacho n.º 19308/2008 emitido pelo Ministério da Educação podem ler-se várias coisas interessantes relativamente à
(re)organização do currículo do Ensino Básico.

Li o artigo agora mesmo, sem que me tivesse demorado muito, e fiquei muito constrangida. Em primeiro lugar, verifiquei que os alunos têm vindo a necessitar, desde há um tempo para cá, daquilo que, na minha linguagem, é o mesmo que aulas suplementares, embora o Ministério titule este grupo de aulas como áreas curriculares não disciplinares (ACND), e que servem para «a melhoria da qualidade das aprendizagens». Bom, se de facto as escolas não conseguem, nos horários competentes, realizar um ensino que capacite o estudante, é evidente que se torna necessário um horário suplementar para que o aluno aprenda, efectivamente, aquilo que não assimilou no decurso do seu dia de trabalho! Mas este grupo de áreas não disciplinares que existem com o intuito expresso de melhorar a qualidade das aprendizagens é, para mim, algo estranho e assustador, porque se os docentes exercem a sua função capazmente, porque parte o Ministério da Educação do princípio que os estudantes ficaram mal ensinados? Será porque o Ministério, ele mesmo, veio promovendo esta conjuntura de fraca assimilação de conteúdos, ou de uma fraca qualidade de conteúdos, ou de esquiva dos estudantes à atenção requerida habitualmente, porque depois terão outra hipótese, passando a limpo as suas lições em aulas suplementares? Não entendo a lógica deste sistema que parece fragmentário! Pensará o Ministério da Educação que, com as turmas excessivas e abarrotadas de crianças que ele próprio promove, não conseguem as crianças aprender como seria desejável no seu horário de trabalho normal? Ou entende o Ministério que os nossos estudantes do Ensino Básico não estão habilitados para aprender no registo estrutural que lhes foi imposto? Ou pensará o Ministério que os docentes, tendo de acudir a tantas áreas de serviço na escola, não conseguem exercer as suas funções docentes com a conveniência requerida?
Do ponto de vista do estudante, estas três áreas curriculares não disciplinares funcionarão como espaços híbridos, que não são bem de aprendizagem e nem são bem de recreio, são uns lugares de limbo que podem ser atraentes, dependendo dos projectos que os docentes que lhes couberam criaram, com a sua imaginação e talento, para ocupar as três vertentes assim dispostas: área de projecto, estudo acompanhado e formação cívica. Estas três áreas devem ser «encaradas como instrumentos privilegiados do conselho de turma para promover a integração dos alunos, melhorar as aprendizagens e promover a educação para a cidadania.». Para mim, estas ACND são intrigantes. Do ponto de vista de um professor também o podem ser, porque a ele cabe pensar em estratégias correctas e válidas para o seu grupo de alunos, para que este assunto e este tempo que todos dispensam, valha a pena ser dispensado… Para isso, o professor precisa de tempo e de espaço, precisa de inventar, de criar, de projectar e de disposição para que, com estas áreas, possa desempenhar uma boa tarefa à sua comunidade. O certo é que esse professor, certamente não terá um tempo específico para preparar essas ACND correctamente, bastando-se ao que de mais rápido lhe possa ocorrer… Como as ACND não estão a carburar na justa medida da utopia do sistema, o Ministério delega nos Conselhos Executivos o mister de «desempenhar um papel essencial ao nível da formação, acompanhamento e valorização das práticas desenvolvidas.». Ora aqui está outro aspecto que, para mim, constitui outro mistério…
1.º o falhanço das ACND como grupo de disciplinas que devia promover a qualidade das aprendizagens que se traduz no seguinte: afinal, nem com aulas suplementares conseguem os nossos estudantes aprender!
2.º o falhanço das ACND promovem uma maior responsabilização dos Conselhos Executivos das Escolas?
Mais do que isto, por causa das ACND, e porque deve empreender-se uma reorganização curricular, na medida da excessiva disciplinarização do 2.º ciclo (o 5.º e o 6.º ano), pensa o Ministério uma solução, que, todavia, se legitima pela Lei de Bases do Sistema Educativo Português: um professor por área curricular.
E aqui começa outro problema, mas este começa apenas no próximo ano lectivo, para professores e, certamente, a médio prazo também para os alunos que na prática creio ser este: um professor de História cumula, certamente, a disciplina de Português. Rios de matérias correriam por este texto que não pretende ser exaustivo. O certo é que aqui começará um vasto problema que tem ligações perigosas com as habilitações dos docentes para o exercício de tantas e tamanhas artimanhas na educação.
Prosseguindo na leitura do documento que tenho vindo a referenciar, encontro que esta solução, que tem de implementar-se no próximo ano lectivo (daqui a pouco mais de um mês), determina a «necessidade de uma distribuição de serviço lectivo, ao nível da turma e da escola, de forma a permitir a redução do número de professores por turma, tendo em conta que o recrutamento dos docentes do 2.º ciclo se destina a uma determinada área curricular disciplinar. Esta organização deverá constituir um elemento facilitador do trabalho transversal [por imposição da transversalidade das ACND, pergunto eu?], favorável ao cumprimento do projecto curricular de turma como instrumento decisivo para a regulação das aprendizagens e para a organização da vida escolar.».
Não compreendi. Vou rever apressadamente, e por alto, o que sei da formação que um professor do 2.º ciclo deve possuir para que não seja necessário aos seus alunos a frequência das famigeradas aulas suplementares. Assim, creio que um licenciado, ou um mestre, na melhor das hipóteses, em História, não foi apetrechado, durante a sua formação académica, com os conhecimentos necessários para veicular instrução digna na disciplina de português sem o recurso a aulas suplementares (o estudo acompanhado entendido agora como explicações). Também creio desconhecer os níveis de transversalidade que o Ministério estabelece, ou seja, o que ele entende com correcção como áreas curriculares, facto que me limita o entendimento sobre as aptidões académicas que cada docente deve possuir. Com Bolonha, creio que daqui a um punhado de anos haja licenciados que conseguem, pela rama, ensinar português e geografia (até mesmo educação física, se jogar futebol com os amigos ao sábado, ficando assim apto a educar para o futebol, disciplina que não tardará a despontar, uma vez que já li passar a existir uma outra titulada educação para o consumo…), assim como matemática e a biologia (se nos curricula das faculdades de matemática começar a existir esta uc de opção com dois níveis…).
O corpo docente actual não está apto a ensinar com conveniência neste sistema de transversalidade, mas consegue, se fechar os olhos com força, dar a volta aos programas, e às cabeças dos pequenitos. E este fechar de olhos e o dar a volta aos programas não constituem problemas de monta, porque o próprio Ministério fechará os olhos, e com os enunciados futuros das provas globais, acabará por misturar assuntos que os estudantes devem ter interiorizado anos antes, valendo-lhes depois, numa grelha de critérios de correcção, esta miscigenação escura de coisas que não passam pelo ensino-aprendizagem, mas por outras coisas ainda mal escritas e mal definidas, que definharão os níveis de ensino até à mais perfeita aberração educativa, espelhada nos fracos recursos dos estudantes que se apressam a engrossar caudais no ensino superior. Que rede fabulosa!
Ao que parece, as ACND estão a falhar como programa, não conseguindo cumprir o objectivo para o qual foram gizadas, e que assim se escreve: a melhoria das aprendizagens. Neste sentido, passa um mesmo professor a leccionar mais do que uma disciplina…
Trata-se de um castigo para todos, professores e alunos, os dois grupos supostamente envolvidos no falhanço das ACND.
O diploma prossegue, estabelecendo que «ao longo do ensino básico, em área de projecto e em formação cívica [disciplinas que cabem, penso eu, a segunda ao director de turma e a primeira a outro grupo de docentes que inclui obrigatoriamente o mesmo director, entre outros?] devem ser desenvolvidas competências nos seguintes domínios:
a) Educação para a saúde e sexualidade […];
b) Educação ambiental;
c) Educação para o consumo;
d) Educação para a sustentabilidade;
e) Conhecimento do mundo do trabalho e das profissões e educação para o empreendedorismo;
f) Educação para os direitos humanos;
g) Educação para a igualdade de oportunidades;
h) Educação para a solidariedade;
i) Educação rodoviária;
j) Educação para os media;
k) Dimensão europeia da educação.».
Trata-se, enfim, de um grupo de conhecimentos que me provoca verdadeiro pasmo. De facto, vou passar a prezar mais os directores de turma que, para além das actividades docentes que deve exercer com o brio que lhe é devido, para além do serviço administrativo que lhe cabe, terá ainda de, nas suas horas vagas, e quando não estiver a preparar conteúdos e a corrigir trabalhos de casa, exercícios e demais funções, preparar projectos no âmbito destas atribuições supra-elencadas. Ao seu lado, trabalha outro docente que cumprirá novos horários, com várias disciplinas a cargo, todas elas agrupadas numa área curricular. Do outro lado, estão as crianças, que devem encarnar personagens desapoiadas, e que por isso necessitam, no ensino básico, de aprender noções de «dimensão europeia da educação», ou de «conhecimento do mundo do trabalho e das profissões e educação para o empreendedorismo», entre outras…, ficando naturalmente à míngua, no panorama dos seus direitos de aprender com qualidade sobre assuntos dimensionados à sua escala.
No decurso desta leitura não vi uma palavra que reclamasse a aquisição, por parte das nossas crianças, de competências no âmbito da expressão (plástica, dramática, musical, e outras) e do livre pensamento sustentado (porque não seguir exemplos limpos do ensino de noções de filosofia nos mais novos? será assim tão transtornante, na relação com a educação para o consumo ou para os media?)...


Segue-se um suspiro e uma pausa para reflectir na quantidade de palavras que não queria escrever sobre este assunto.

quarta-feira, julho 09, 2008

quando as páginas do meu diário saltam cá para fora a pedir ajuda a ninguém

Sou uma professora portuguesa e sou mãe de duas crianças.
O meu filho mais velho nasceu em 24 de Dezembro de 2002 e, 20 meses depois, coloquei-o num infantário de Coimbra. Nessa altura, a idade das crianças pequenas, na relação com as turmas de ingresso, regulava-se pelo ano civil de nascença e, por esse motivo, o meu filho teve de avançar, no ano lectivo seguinte, entrando na sala dos três anos enquanto ainda tinha apenas dois. Lembro-me de como fiquei assustada, mas não tive alternativa. Era assim que as coisas funcionavam e, com o tempo, eu e ele fomo-nos habituando e correu tudo muito bem.
Chegou depis, e com rapidez, a altura de abandonar o Jardim Infantil, e de inscrever o meu filho na Escola Primária, no passado mês de Março. Durante este ano lectivo, o Afonso aprendeu as letras e os números e está a sair-se lindamente, porque quer aprender, porque está orientado no sentido do seu ingresso na famosa Escola Primária, porque pedagogicamente e psicologicamente, este é o seu caminho natural, porque se preparou para este decurso ao longo destes últimos (e primeiros) anos da sua vida. Todas as semanas me pergunta quando chega o dia de ir para a Escola Primária, e eu repondo-lhe, agora com grande timidez, que irá depois das férias do Verão.
É que chegada a fins de Maio começo a ouvir que as crianças que completam os seis anos em Dezembro não estão abrangidas pelo sistema nacional de educação ou, por outras palavras, estão fora do regime de obrigatoriedade de ensino. Comecei então a ir à Escola. Ouvi na Escola que estava tudo bem, que haveria lugar para todas as crianças, incluindo o Afonso, mas que tinha de esperar uns dias, para obter certezas sobre o assunto que começou a enervar os pais que, como eu, têm os seus filhos na mesma situação. Soube, depois das primeiras diligências tomadas, que a Lei fora alterada, no que concerne às idades na relação com as turmas de ingresso, e que as crianças que completam a idade fora do ano lectivo (até 15 de Setembro) não são admitidas no regime de ensino obrigátório. Esta alteração da Lei, sem a constituição de um regime de transição para todos quantos estavam abrangidos pelo Decreto anterior, valeu o desaparecimento, do sistema de obrigatoriedade de ensino, de uma quantidade substancial de crianças portuguesas cuja alternativa é permanecerem nos seus Jardins Infantis, ou ingressar no sistema de ensino particular.
A poucos dias de Agosto, o meu filho está em terra de ninguém, no fim de uma lista de alunos que não cumprem os requisitos para a sua admissão na Escola, valendo ainda uma esperança: a abertura de uma quarta turma para a colocação de 20 futuros estudantes que estão do lado de fora das portas da Escola.
Não consigo, confessadamente, manter-me à tona da sanidade mínima, também porque tenho mais de 570 alunos agora para para avaliar, do primeiro ciclo de estudos do ensino superior, e mais 17 do segundo ciclo, porque estou esgotada, porque penso que Portugal é um país jactante, enchendo a boca com a educação e com o direito ao ensino, porque Portugal propagandeia o envio de professores e de livros dizendo promover, em países distantes do nosso, a educação com dignidade, porque em Portugal as guerras com o ensino começam antes dos nossos filhos serem admitidos nas suas primeiras escolas, porque desconheço o destino do Afonso para o ano lectivo que vem, porque não posso acreditar que o Estado transforme impunemente e de modo tão sinistramente silencioso, estas crianças em repetentes do Jardim Infantil, gorando as suas primeiras e tão tenras expectativas, porque convivo com a descrença, porque sei que estou a ser governada por crianças que, tivessem elas aprendido, não levariam Portugal com tanta pressa para o pior lugar da Europa…
Resta-me agora escolher uma de duas vias possíveis: ou desato a escrever cartas para a DREC, promovendo abaixo-assinados pungentes, e fazendo esperas a quem pode dizer-me para ter calma, ou pago a peso de ouro para que o Afonso não fique um ano à espera de «entrar na Escola Primária», acesso a que ele tem legítimo direito.
Claro que, tendo eu de acudir aos meus mais de 570 alunos do primeiro ciclo, em época de avaliações, e aos 17 gloriosos do segundo, também em época de avaliações, tendo eu de preparar o semestre seguinte, com prazos curtos e por entre os possíveis 10 dias de pausa para respirar durante o tórrido mês Agosto, não consigo fazer esperas a ninguém, nem tenho já engenho para escrever cartas formais com argumentos viciados para humildemente pedir para que o meu filho possa ingressar na sua tão esperada Escola Primária… Estou, como possivelmente tantos outro pais devem estar, instalada no cerne de um ataque de ânimos desavindos, e não consigo poupar os meus filhos aos meus apupos de mãe infernizada. O pior é que nesta altura do tempo, dizer que o desânimo, ou que a revolta, tomou conta de mim (ou de nós), não vale nada.
E no meio das avaliações, e do trabalho que mantenho com o brio do qual ainda posso orgulhar-me, sinto um torpor estranho e anestesiante, daqueles que sentem as pessoas que se sentem injustiçadas, daqueles que sentem as pessoas que, por mais que esbracejem, não conseguem agitar o ar. No sistema de ensino em Portugal, o Afonso não aparece, porque alguém decidiu mudar uma Lei à sua revelia, e a seu desfavor… e ele ainda só tem 5 anos!

quinta-feira, julho 03, 2008

as pinturas murais da Capela de São João Baptista em Monsaraz





No próximo dia 13 de Julho (Domingo), pelas 18 horas, o Município de Reguengos de Monsaraz, apresentará, na Antiga Igreja de S. Tiago, em Monsaraz, integrada na Bienal Cultural Monsaraz Museu Aberto, o Livro «As Pinturas Murais da Capela de São João Batista em Monsaraz (1622), Estudo do Programa Artístico e Iconológico e Fixação de Autoria», da autoria do Professor Doutor Vitor Serrão.