terça-feira, janeiro 29, 2008

... I and II and III ...








...

foi há tanto tempo que quase me perdia.
mas afinal ainda lá estou.
e estou ainda aqui.
depois.



quinta-feira, janeiro 24, 2008

sem título






Porque mesmo não querendo continuamos sós
no adentro das nossas vidas
no adentro das ideias
no adentro de um estômago
que dói



e continuaremos sós
no adentro de nós mesmos
ainda que possamos pensar que,
mas só no adentro das ideias,
nos envolvemos prenhemente
com o mundo

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Yeah

BREAK iN YOUR HEAD. SpOk23



Quando descobri este dj bretão chamado Spok23 fiquei algum tempo sem pensar noutra coisa, por isso decidi partilhar o que há de partilhável ...

Da TriBe Liveset By SpOk23

terça-feira, janeiro 08, 2008

segunda-feira, janeiro 07, 2008

a Nosso Senhor





Se eu, com a minha lâmina de veludo, tentasse arrancar-te esses teus olhos, para com eles conceber meu pendente de peito, sempre presente, chegaria ao céu, ao pé de ti, oh altíssimo, e contigo construiria um caminho desavesso, mas seria esse o caminho que contigo, sem teus olhos, porque já eles foram derramados no pendente do meu peito, percorreria aos brados, feitos com a minha voz de veludo, tentando cantar os sons que de minha boca não sairiam, porque a minha voz e a tua, que são uma voz junta, gritariam num mesmo silvo de céus ardentes que só os anjos, com seus cabelos brandos, apreenderiam. Se eu, com a minha lâmina de veludo, tentasse remoldar-me na vida, para com ela, toda nova e toda sã, conceber-me em pendentes de peito, sempre presentes, chegaria ao céu, ao teu largo, altíssimo, e contigo conviveria sem voz, porque as orações que proferiríamos, de tão iguais, se confundiriam. E essa minha mão de veludo te cercaria, e o mundo inteiro se verteria em nada, porque nele jamais me perderia.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

porque de facto não aguento

decidi, apesar de ter jurado que não mais escreveria, ou sequer pensaria sobre este assunto que é, para mim, algo irritante, copiar, do documento enviado pelo Ministério da Saúde (consultável em www.dgs.pt, creio eu) referente à lei Anti Tabaco (titulado «Perguntas e respostas acerca da Lei 37/2007, de 14 de Agosto»), o elenco dos lugares onde não é permitido fumar, tais como alguns onde, em casos previstos, pode eventualmente fumar-se.

Recebi essa documentação no ano passado mas nem abri o link, empurrando o problema com a barriga. Mas agora decidi abrir o referido doc., talvez para compreender algumas questões que ainda não tinha visto explicadas ou, quem sabe, para me focar na realidade. Durante a leitura, arregalei tanto os olhos que não aguentei, resolvendo-me então a partilhar parte do interessante texto:

É então proibido fumar:
«1. Nos locais onde estejam instalados órgãos de soberania, serviços e organismos da administração pública e pessoas colectivas públicas;
2. Nos locais de trabalho;»

Nota rápida aos pontos 1. e 2.:
então em que ficamos?
onde é que nos é permitido trabalhar?

«3. Nos locais de atendimento directo ao público;
4. Nos estabelecimentos onde sejam prestados cuidados de saúde, e outros similares, laboratórios, farmácias e locais onde se dispensem medicamentos não sujeitos a receita médica;
5. Nos lares e outras instituições que acolham pessoas idosas ou com deficiência ou incapacidade;»

Nota rápida aos pontos 3., 4. e 5.:
nem a propósito!

«6. Nos locais destinados a menores de 18 anos;
7. Nos estabelecimentos de ensino, independentemente da idade dos alunos ;
8. Nos centros de formação profissional;
9. Nos museus, colecções visitáveis bibliotecas, salas de conferência, de leitura;
10. Nas salas e recintos de espectáculos e diversão;
11. Nas zonas fechadas das instalações desportivas;
12. Nos recintos das feiras e exposições;
13. Nos conjuntos e grandes superfícies comerciais e nos estabelecimentos comerciais de venda ao público;
14. Nos estabelecimentos hoteleiros;
15. Nos estabelecimentos de restauração, de bebidas ou de dança;
16. Nas cantinas, nos refeitórios e nos bares;
17. Nas áreas de serviço, postos de abastecimento de combustível;»

Nota rápida ao ponto 17.:
ainda bem que não podemos fumar cigarros nas áreas de serviço, porque ainda assim, é-nos permitido beber bebidas alcoólicas sem qualquer limitação.... (sem comentários).

«18. Nos aeroportos, nas estações ferroviárias, nas estações rodoviárias de passageiros e nas gares marítimas e fluviais;
19. Nas instalações de metropolitano;
20. Nos parques de estacionamento cobertos;
21. Nos elevadores, ascensores e similares;
22. Nas cabines telefónicas fechadas;
23. Nos recintos fechados das redes de levantamento automático de dinheiro;
24. Em qualquer outro lugar, onde por determinação da gerência, ou de outra qualquer legislação aplicável, designadamente em matéria de prevenção de riscos ocupacionais, se proíba fumar;
25. É ainda proibido fumar nos veículos afectos aos transportes públicos urbanos, suburbanos e interurbanos de passageiros, bem como nos transportes rodoviários, ferroviários, aéreos, marítimos e fluviais, nos serviços expressos, turísticos e de aluguer, nos táxis, ambulâncias, veículos de transporte de doentes e teleféricos.»

Bom, era de evitar tanta tinta para dizer-se apenas que é proibido fumar em toda a parte tirando a sua casa e tirando, muito provavelmente, as sentinas (ou as retretes públicas), que não se arrolam neste documento.

Nos lugares onde é permitido fumar-se relê-se:
«3. Pode ser permitido fumar em áreas expressamente previstas para o efeito:
3.1. Nos locais onde estejam instalados órgãos de soberania, serviços e organismos da administração pública e pessoas colectivas públicas;
3.2. Nos locais de trabalho;»

.... é de rir.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Stay Tune



from Anja Garbarek, nesta canção fabulosa, to Robert Wyatt, revista, and so on...

Sobre o estado da saúde




Ainda não há muito tempo escrevi sobre Herbert Marcuse e sobre as suas ideias magníficas no que respeita ao Estado do Bem-Estar. Na sua senda, e esta é a primeira e última vez que escrevo sobre este assunto, devo expelir o que sinto sobre a Lei Anti Tabaco e seus sequazes.

De facto, fumar faz mal. Não há volta a dar quanto a esse assunto. Quem começou a fumar, seja lá quando, ou como isso aconteceu, fez mal. Fez mal porque se enganou, pensando que fumaria quando bem lhe aprouvesse e que fumar não comandaria a sua vida. Enganámo-nos.

A nicotina vicia mais do que a cocaína, e quem cai nos seus engodos, fica preso. Eu fumo desde os 16 anos. Fiz mal. Parei depois de fumar, aquando das gravidezes e suas implicações ulteriores, porque quis e porque tinha um motivo veraz para largar o cigarro. Foi um processo quase automático, porque o stress que me provocava a espera pelo tempo para fumar os cinco cigarros admissíveis parecia não passar. Três anos depois de ter parado, fui recomeçando, pensando novamente que não ficaria agarrada ao hábito, mas fiquei. Acho que, no fundo, recomecei a fumar porque sou fumadora, dependente de químicos. Entendo-me correctamente como uma nicotinómana. A partir de então comecei a trabalhar melhor, comecei a melhorar o humor, e rapidamente voltei ao que era, aquando dos 20 cigarros fumados diariamente.

O Estado entende que deve melhorar a saúde dos seus cidadãos. E entende bem, enfim, se quisermos responsabilizar o Estado por tudo, se formos de facto os filhos do Estado, e se o Estado tiver poderes para viver a vida dos seus filhos como gente menor e à sua guarda. Sim, o mesmo Estado que cuida da desvalorização social, esse mesmo Estado que vira as costas à outra saúde, aos problemas reais relacionados com a promoção da saúde (pública) dos seus filhos: os hospitais, os centros de saúde, as instituiçõs que deveriam cuidar dos que não têm quem lhes trate da saúde. Tenho péssimas memórias dos hospitais a que tive de ir, ou onde estiveram os meus: os médicos são, salvo devidas excepções, de bradar aos céus, porque vestiram a bata de um funcionalismo público de terceira categoria em termos de decência profissional (o encolher de ombros devido à hora, ou ao dia impróprio, a incúria estarrecedora, a lástima no que concerne à sua própria educação... É tudo tão rudimentar que aflige pensar nisso mas, o pior, é que isso implica com a vida alheia, alheia à deles, embora); dos senhores enfermeiros há de quase tudo, desde que a vaidade assim os incentive... enfim... Numa palavra, quando alguém adoece, deus nos proteja, o melhor é ficar-se em casa, pois que a casa pode ser um lugar mais salubre do que um hospital. Ou então, caso tenhamos mesmo de abandonar o lar, porque há a necessidade de uma operação, por exemplo, devemos seguir a ideia do médico que nos diz: operaria aqui, mas o melhor é ser operada na clínica onde trabalho, porque há menos esperas e o ambiente é melhor.

Muito bem. Pensando que fumando posso incorrer numa série interminável de danos para a minha, e para a saúde dos demais, e pensado que posso até vir a necessitar de recorrer a um hospital por motivos tão fúteis como o fumo, vou optar por melhorar as minhas, e as outras condições de vida. A par do abandono do cigarro, abandonarei também outros hábitos pouco higiénicos, como por exemplo, as comidas fortes, os refogados puxados, os fritos, os doces e os salgados, as bebidas açucaradas, gaseificadas, alcoólicas, e vou optar por macrobióticos e por uma cozinha mais rica em àguas, em fibras e em algas. A par dessa higienização alimentar, cuidarei em fazer desporto de ar livre, enchendo meus pulmões, outrora negros, do ar cristalino que em Portugal se respira... (!, certo?) Vai ser bom.

E com o andar da vida, conseguirei, enfim, chegar à década dos oitenta, ou dos noventa e tais anos. Nessa altura, se não for antes, certamente padecerei de outros males, dos males dos que não fumam, mas que vão morrendo, como os demais. Nessa altura, se tudo correr pelo melhor, poderei estar entrevada, imobilizada, com dores, ou toldada pela demência, perfeitamente longe da vida que levava, mesmo sem fumar, sem comer mal, e praticando de tudo o que de bem traz a vida, porque as minhas células, inevitavelmente, pararam de realizar a sua reprodução natural, enfim... tudo pode acontecer a uma velha que não fuma, por isso, certamente, terá chegado a velha. Bom!... nesses dias que virão, necessitarei de ajuda para tudo, se não puder que alguém me injecte o tal líquido mortificante, que é contra natura. Os meus filhos, oh, os meus filhos, quero-os longe de mim. Quero-os a tratar dos filhos deles, se for o caso, ou das suas vidas jovens, que dão o trabalho que dão. Não quero os meus filhos comigo, porque estarei velha, e velha, se estiver zombi, quero-os fora de mim, para me lembrarem nova.

O que eu quero, ou melhor, o que eu exijo, é que o Estado do Bem Estar me dê o apoio que me prometera quando me delongou os anos de vida. Ele sim, tem de dar-me um lugar digno, limpo e arejado, cheio dos velhos da minha idade, um lugar onde possamos sentir-nos bem, porque vivemos anos demais. Nesse dia que virá, oh que magnífico, poderei acabar os meus tempos sossegada, a cargo do Estado que me dara um quarto com casa de banho preparada e limpa, com uma vista ampla, com atendimento personalizado, com música, com filmes, com biblioteca, com flores e ar puro para que eu possa viver até ao fim, no quarto branco que o Estado me prometera. Certamente que o Estado não vai entrar naquela mísera conversa do: oh, minha senhora, veja a lista de espera imensa neste lar comparticipado, tem de morrer primeiro; minha senhora, é com alegria que lhe escrevemos, informando que ha agora uma vaga, naquela instituição onde morreram duas idosas porque a gerência tinha maus figados com quem teimava em em portar-se mal; minha senhora, porque o lar onde esteve inscrita (pagando) durante anos, foi fechado por falta de condições de higiene, terá de aguentar por onde lhe for possível; minha senhora, tem de deixar a sua pensão, e um terço do salário dos seus filhos, se quiser comer todos os dias na casa de repouso que lhe oferecemos... e

Ainda Bem, que o Estado do Bem Estar pensa em tudo, e que neste admirável mundo saudável, podemos nunca adoecer (valendo-nos poupar-nos de uma infecção hospitalar, ou de um pontapé de um bêbado enquanto esperamos consulta), e podemos morrer num lugar de encantamento, entrevados, mas felizes.