sexta-feira, setembro 08, 2006

Lierto pensamentos que podem vir a ser úteis

O objecto de estudo da sociologia é, justamente, a sociedade e a sociologia é, por sua vez, a ciência da sociedade atenta ao essencial. Parece constituir-se como uma tarefa difícil, este discernimento com tão amplo espectro e é-o, de facto, tal como se torna amplamente difícil encontrar um caminho, o verdadeiro caminho para o encontro da verdade. A verdade que, em Sociologia, não pode existir, para além daquela que constitui, eventualmente, a verdade da existência dos próprios fenómenos sociais.

Há que seleccionar, do todo da sociedade, os elementos que se consideram essenciais e, de certa forma, aqueles que são determinantes. A sociologia, segundo Adorno, trata de lidar com o essencial (longe do significado filosófico do “ser em si” que é a “essência”, neste caso versus “acidente”), ou tenta apreender a objectividade da sociedade. A sociologia interessa-se, fundamentalmente, pelas leis de movimento da sociedade: o modo como as situações, ou os fenómenos, se geraram e para onde se dirigem, durante o seu desenvolvimento. A sociologia estuda a dialéctica da sociedade e/o seu devir, almejando-se que, neste processo, não se escamoteiem os elementos apensos ao conhecimento da história.

Os objectos essenciais são, precisamente, aqueles que, imediata e aparentemente, não têm grande importância mas «nos quais a essência se manifesta de modo mais perfeito do que se nos dirigirmos às questões essenciais numa certa imediatidade que, por isso mesmo, se pode equiparar ao grande.» (cf.Theodor W. Adorno, Lições de Sociologia, Ed. 70, col. Ciências do Homem, Lisboa, 2004, p. 33). Um objecto de estudo não deve demarcar-se antecipadamente como essencial, porque a sua essencialidade manifesta-se através daquilo que desse objecto emerge.

Para Adorno, essenciais são as leis objectivas do movimento da sociedade, aquelas que decidem o destino dos homens e que acabam por constituir a sua fortuna. Por outro lado, também é essencial a possibilidade, ou potencial, de que as coisas, na realidade, possam ser diferentes, e de que a sociedade deixe de ser uma associação apertada.

Mas ainda fica por saber o que se entende por “sociedade”. Em primeiro lugar, temos de saber que não há uma, mas muitas sociedades e que esta existência inibe a concepção de uma definição única para o conceito em causa. Mas se nos colocarmos no âmbito das linhas orientadoras do que há de essencial nas sociedades, temos a certeza de que uma sociedade, seja ela qual for, é um conjunto de Homens vivendo em comunidade (segundo o tipo de comunidade que for), articulando-se em torno da produção e da reprodução da vida. São os próprios homens que definem o modo como vivem a sua existência em comunidade. A forma como os homens se congregam respeita uma linha de funcionamento que abrange todos os elementos dessa sociedade, e que se assume, a dada altura, como uma força que ganhou a sua autonomia, em tempos próprios.

A sociedade, ou as sociedades, evoluíram historicamente e é também por esse motivo que não podem estudar-se sem ter em linha de conta esta dimensão, que é a dimensão do seu devir histórico, e da sua dialéctica temporal, com as suas forças naturais.

A sociedade deve também entender-se como uma estrutura funcional, mas onde existem fortes relações de troca entre os sujeitos. No dizer de Adorno, «a sociedade, a sociedade socializada, não é apenas a relação funcional entre os homens socializados. É essencialmente, enquanto pressuposto, determinada pela troca. Aquilo que, em rigor, torna social a sociedade, que, em sentido específico, está na base tanto da constituição do seu conceito como da sua constituição real é a relação de troca que abarca, virtualmente, todos os homens que participam nesse conceito de sociedade e que, num certo sentido, é também a condição das sociedades pós-capitalistas, nas quais não se pode dizer que já não haja troca.» (cf. Theodor W. Adorno, Lições de Sociologia, ..., p. 49).

Procurar, por entre os vários métodos de trabalho e de pesquisa, ou por entre os vários modelos de explicação dos fenómenos que se colocam no âmbito do estudo desta ainda tímida ciência, um que possa considerar-se como mais eficaz é um trabalho vão. Em sociologia, deve procurar-se sistematicamente o método mais válido para cada estádio do conhecimento. A evolução da ciência, como escreveu Adorno, é que determina a sua metodologia.


A Sociologia pode entender-se como a ciência dos factos, cujo conjunto constitui a vida colectiva dos homens. Em sociologia buscam-se constantemente novas estruturas e novos modelos (modo de explicação científico do geral e do particular social, substituindo uma realidade empírica por outra mais clara e mais fácil de explorar cientificamente) sociais.


O sociólogo deve ser um atento observador das efervescências do actual.


Só o entrecruzar de conjunturas simultâneas (económica, política, social, religiosa, cultural...) dará lugar a uma sociologia eficaz.


«A longa duração é a história interminável, indesgastável, das estruturas e dos grupos de estruturas», confundindo-se com a sociologia (cf. Fernand Braudel, História e Ciências Sociais, Presença, Lisboa, 1990, p. 82).


Em certa medida, não há diferenças entre uma sociologia da arte e uma história da arte, assim como entre uma sociologia do trabalho e uma história do trabalho, entre uma sociologia literária e uma história literária (cf. Fernand Braudel, História e Ciências Sociais, Presença, Lisboa, 1990, p. 77).


Para Durkheim, os factos sociais são aqueles que se caracterizam por consistir em maneiras de agir, de pensar e de sentir que são exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem (Cf. Émile Durkheim, As regras do método sociológico, Presença, Lisboa, 2004, p. 39). Não se constituem com factos sociológicos, mas constituem matéria da sociologia. Nas suas próprias palavras, «Facto social é toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independentemente das suas manifestações individuais.» (idem, ibid., p. 47).

Quem não conseguir discernir, no cômputo geral da análise da sociedade, o que é essencial, daquilo que o não é, não poderá identificar como o essencial concerne aos factos sociais individuais que são os componentes do todo social e, por isso mesmo, não deverá enveredar pelo estudo da sociologia. Conforme explicou Adorno, também não é sociólogo «aquele que se contenta com intuições de essências e não verifica semelhantes intuições nas condições históricas numa medida essencial, sob as quais se gerou o fenómeno e que o fenómeno, tantas vezes, expressa e articula.» (Theodor W. Adorno, Lições de Sociologia, ..., p. 36).


A relação que a sociologia da arte mantém com os objectos artísticos...
A sociologia da arte mantém-se, relativamente ao mundo das formas artísticas, numa posição de trasmundo (Nietzsche) ou, se quisermos, ela busca atrás do mundo das manifestações artísticas.

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