sexta-feira, janeiro 09, 2009

After party

Não cumpri os votos do costume, no tempo certo do Dezembro que já passou, porque me perdi a rever uma série de natividades e decidi não abusar das representações daquela Mãe adorando, distante, o recém-nascido Filho, colocado em posição de abandono num leito mal fabricado. Fugi à iconografia precisamente porque senti que, ao contrário de Maria assim representada, queria muito pegar nos meus filhos ao colo demoradamente. E ao pegar nos filhos demoradamente, o mundo fecha-se inteirinho à nossa volta, e nada mais importa, muito os perigos, muito menos as guerras, muito menos a previsibilidade de um futuro agónico. Do olhar dos nossos filhos, vistos dali, do nosso colo, emana uma serenidade tão verde que nos faz girar o mundo que assim se vira ao avesso.
Dir-me-ás, Senhor, que a iconografia na Natividade é o fruto da imaginação dos Homens e que, na realidade, os factos decorreram de outro modo, porque Maria, logo depois de dar à luz, experimentando, como todas as mulheres, aquela esquisita emoção, pegou no filho ao colo para de imediato o alimentar e aquecer, ao que te responderei que, por isso mesmo, temo tanto a Humanidade.
Se dos olhares dos Homens cai uma lágrima, ela deve embater com força nos olhares dos próprios filhos.

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