quinta-feira, junho 25, 2009

coisas de pedagogia entre outros assuntos pertinentes

Ontem estive a ver e a ouvir as palavras de Nuno Crato num canal de televisão portuguesa. E acreditei (corroborando) em tudo quanto ouvi, esperando que as palavras ali ditas entrassem, tranquilamente, em todas as casas por este país fora (ou dentro), porque elas são necessárias, especialmente na conjuntura (educativa, cultural e científica, entre outras) em que vivemos.

É urgente que o país se dê conta de que está a retroceder, degradando-se. É que a degradação de um país parte, como se sabe, da formação dos seus cidadãos, e quando eles não são formados, quando a desacreditação das fundações do conhecimento é prática corrente, não pode, qualquer que seja a sociedade moderna, tornar-se numa sociedade de facto, atendendo aos predicados que a ela convêm imputar-se.

Felizmente que nem todos estão de olhos vendados, e que há, mesmo que poucos, alguns sujeitos que reflectem sobre estes assuntos estruturantes com inteligência e com verticalidade, expondo, com a clareza que importa a estes assuntos, que o caminho da formação, desde os primeiros anos de vida dos sujeitos em processo formativo, passa pelo trabalho e pelo esforço, pela memorização, pela repetição de exercícios, pela sistematização, pela prática, ainda que mal compreendida, mas depois absorvida, pela activação de mecanismos adstritos à aquisição de conhecimento.

As modernas práticas de formação instigam, segundo Nuno Crato, e que todos nós testemunhamos, à auto-aprendizagem e à motivação individual mas, todavia, não pode um sujeito, e independentemente da sua idade (ou grau de formação), motivar-se sem conhecer, já que é a própria(e constante)aquisição de conhecimento que proporciona um crescendo de motivação. Trata-se de um processo circular, e não de um esquema linear de aprendizagem.

Recordo outro assunto tratado na entrevista de ontem, e que toca a questão daquilo que podemos designar como a aprendizagem a brincar... Quando as prática pedagógicas atendem à forma como devem ensinar-se os aprendentes, investindo-se sobremaneira no aspecto, quanto mais apelativo em termos de formas e de cores e de esquemas que, eventualmente, motivem os formandos, ao invés de investir na qualidade do ensino, alicerçado nas raízes que o devem fundar, tais como oferecer as ferramentas de trabalho de forma orientada, fortalecer os esquemas de aquisição de conhecimento, instigar ao esforço e à prática repetitiva, alargar o espectro de assuntos, explicar o sentido que todos os assuntos possuem de forma transdisciplinar, ou, numa palavra, ensinar (de um lado) para aprender (de outro).

Também eu credito que um formando, para aprender, tem de esforçar-se, tem de memorizar e tem, depois disso, de compreender. Trata-se de um processo que começa, tal como Nuno Crato defende, a partir do grau zero do conhecimento, ou seja, os nossos estudantes começam, no ensino básico, a trabalhar assuntos e a activar mecanismos mesmo antes de se darem conta do que efectivamente estão a praticar, e mesmo sem saberem o que estão, na verdade, a conceber. O que estimula estes aprendentes é, precisamente, a luta que dá este processo e a vitória do alcance de resultados, mesmo que ainda desconhecidos, ou mesmo que desconhecido seja o objectivo desses resultados. Com o tempo, e com o crescendo destas práticas (entre outras que o ensino tradicional promove) surge, no horizonte destes estudantes, ainda que de forma esboçada e incompleta, a razão que levou o professor à prática sistemática do processo que ele viveu.

Trata-se de um caminho longo e duro, mas que forma o sujeito e que lhe oferece a possibilidade de, mais tarde, adquirir, então de forma mais individual, mas alicerçada, outros níveis de conhecimento. O crescimento do estudante desde o primeiro ano faz-se de forma espiralada, diria eu.

Ficam aqui outros textos, da autoria de Nuno Crato, que servem como exemplos da qualidade das suas ideias que, por seu turno, são o fruto de uma pesquisa séria sobre estes assuntos que ao país deveriam importar mais do que outros... sob pena de uma hipoteca com base na alienação e na ausência de formação dos indivíduos que a compõem.

1 comentário:

r disse...

"os nossos estudantes começam, no ensino básico, a trabalhar assuntos e a activar mecanismos mesmo antes de se darem conta do que efectivamente estão a praticar, e mesmo sem saberem o que estão, na verdade, a conceber. O que estimula estes aprendentes é, precisamente, a luta que dá este processo e a vitória do alcance de resultados, mesmo que ainda desconhecidos, ou mesmo que desconhecido seja o objectivo desses resultados."

No ensino básico os putos querem brincar mais do que trabalhar assuntos e activar mecanismos.