terça-feira, fevereiro 13, 2007

Sobre os exames da terceira época de sociologia da arte

Da correcção dos exames da terceira época de sociologia da arte

Rascunhos e comentários gerais em tom de carta aberta:

Verifiquei, através da leitura dos exames que, mais uma vez, os discentes possuem grandes dificuldades em lidar com determinados conceitos e ideias que deviam estar já sedimentadas.
Queria que este post funcionasse como uma carta, e não como critérios de correcção do exame (publicados no link devido da UAb) que, por seu turno, e como tem sido costume, oferecem mais do que os critérios de correcção, mas também o ambiente das respostas que se queriam ver escritas.

Este post deve operar com um sentido de alerta, deve servir para fazer pensar em determinados assuntos que deviam estar presentes, nos espíritos dos alunos que realizaram a prova, porque só assim entenderiam as questões enunciadas. Trata-se de uma exposição que pretende alguma interactividade, para que possamos pensar, agora conjuntamente, para obviar determinadas dificuldades que vão surgindo ao longo do trabalho individual do aluno.

Desta vez, denotei existirem sérios embaraços em lidar com os seguintes assuntos:
1. O valor estético de uma obra de arte;
2. O serviço que o artista presta à comunidade;

Por fim, devo dizer que a grande maioria dos alunos que realizaram este exame não entenderam a última questão enunciada (Parte III do exercício).

***

Sobre o valor estético de uma obra de arte… Trata-se de um assunto que nos remete para o campo da Estética mas, ainda assim, e porque a estética trabalha conjuntamente com a sociologia da arte, requer-se que o aluno saiba do que se trata.
Proponho, como tarefa útil, que se pense, e que se escreva, sobre estes grupos de questões teóricas:

O que é uma atitude estética
O que é uma experiência estética
O que é a contemplação estética

O que é o valor estético apenso a uma determinada obra de arte?
O valor estético de uma obra de arte pode medir-se por factores estritamente empíricos?
O valor estético de uma obra de arte pode relacionar-se com a beleza, ou com a qualidade do que é belo?
O valor estético de uma obra de arte afere-se através da quantidade, ou da qualidade do prazer (estético) que o receptor sente na sua presença?

O que dá garantias de qualidade a uma obra?

Como deve ler-se uma obra de arte feita no passado? Devemos entender que uma obra de arte possui valor(es) histórico(s), possui valor estético e possui valor artístico… o que é isto?

***

Sobre o papel multíplice que o artista desempenha na sociedade (ou sociedades), ou sobre o serviço que o artista presta à comunidade, devem ler-se os critérios de correcção
(3ex de 2005-06)
publicados no espaço competente da UAb.

Creio que a grande parte dos discentes ainda não concebe que o artista, com o seu trabalho, se divide entre a realização de produtos estéticos e o serviço comunitário. De facto assim é, também porque uma obra de arte é uma oferta que o artista faz à sociedade e, mais ainda, é a oferta de si mesmo, com toda a carga objectiva e subjectiva que a obra possui… o artista oferece-se, literalmente, à sua causa, que também, e necessariamente, é uma causa social!
O artista coloca na obra o que está em si, o seu ente, ou, se quisermos, a sua entidade é posta literalmente no mundo.
Que dádiva maior pode uma sociedade auferir senão esta entrega quase abnegada, mística, mágica, que um ser lhe entrega?

Paralelamente, temos de saber, ou imaginar, que o artista o é porque tem necessidade de o ser. Trata-se de um indivíduo dotado de uma capacidade de leitura do mundo que é, naturalmente, diferente da dos demais. É um indivíduo dotado com uma inteligência artística, se quisermos. É um indivíduo sagaz, com impulsos criativos e com necessidade de expressão. É um indivíduo com Talento. É um indivíduo dotado com capacidades invulgares para aprender uma determinada forma de dirigir-se ao mundo, em termos artísticos, porque a arte é também execução, não é só imaginação e criatividade (não é só talento no seu sentido abstracto, mas exige uma componente prática que implica trabalho e sujeição a normas mais ou menos tradicionais, mais ou menos rupturais, mais ou menos inovadoras, mais ou menos radicais de colocar em obra…).

Naturalmente que um sujeito talentoso não é o mesmo que um sujeito com jeito para um determinado desempenho. O talento vem de dentro e é indecifrável, mas aferível em termos subjectivos. O talento não se mede, mas intui-se e sente-se, como se sente a qualidade estética, como ela se intui romanticamente.
Relativamente à questão colocada em exame, devemos saber que o artista presta um serviço cultural, um serviço estético, um serviço social, um serviço lúdico (também, porque não?), um serviço preso com uma das necessidades básicas do homem...
E porque o artista realiza um trabalho cultural, preso também (e dependendo do género artístico) com a perenização e com a construção de memórias, ele presta um serviço à comunidade, um serviço que a organiza, a legitima, a constrói, a apazigua, a coordena, e a agrega, enquanto entidade social ...

***

De facto, para que nos possamos entender em territórios como o da estética, o da sociologia da arte e o da história da arte, temos de estar conscientes de que devemos fazer estudos laterais, devemos levantar questões que, por vezes, parecem não fazer parte do âmbito destas ciências, ou paraciências (no caso da sociologia das artes), reclamando conhecimentos que de todo são laterais, antes pelo contrário, eles são de extrema utilidade quando já devidamente sedimentados e, por isso, fazendo parte natural de um imaginário cultural que se reabilita a par do conhecimento que vai sendo adquirido. E é assim que nos fazemos crescer, devagar, cumulando leituras, cumulando ideias, cumulando escritos, acumulando cultura, servindo-nos dela quando no-la reclamam.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim...