quarta-feira, abril 18, 2007

sem título


Dürer

3 comentários:

Anónimo disse...

Dürer ou o artista encantado com a sua própria imagem?
Não consigo evitar pensar que há algo de narcísico em Dürer...

Carla Alexandra Gonçalves disse...

A brincar:
e não deve ele encantar-se com a sua imagem? Eu encanto-me...

Agora a sério:
este auto-retrato é, para a época, das poucas realizações deste género, já que não era vulgar o artista retratar-se, ou sequer assinar as suas obras. Conhecem-se poucos retratos de artistas dos séculos XV e XVI... o primeiro terá sido Peter Parler, o escultor do tempo gótico que ficou famoso também por ter sido o primeiro artista a auto-retratar-se. Temos, no Mosteiro da Batalha, o mestre Huguet que, orgulhoso, se fez retratar num arranque de uma abóbada...
Também neste contexto, Dürer foi um homem de vanguarda porque, para além de identificar os seus trabalhos, pintou os seus retratos que são, de facto, obras de «encantar».

Anónimo disse...

OK, eu confesso: também acho o rosto de Dürer muito interessante... para usar apenas um eufemismo. :)

A propósito de auto-retratos, lembrei-me das imagens de pedreiros que aparecem nos cachorros de algumas igrejas românicas - infelizmente, mais em Espanha do que em Portugal - e que são por vezes interpretadas como representações dos mestres responsáveis pela sua construção...

Igualmente interessante parece-me ser esta evolução na apreciação que o artista tem do seu próprio valor e que o leva a eleger-se como tema das suas obras, a sentir-se digno de atingir a imortalidade de uma forma mais “directa”.

Mas, voltando a Dürer, para além da (óbvia?) beleza do rosto, há algo mais que transparece naqueles auto-retratos, que transmitem um sentimento diferente daquele que é veiculado pelos auto-retratos de, por exemplo, Rubens. Este último retrata-se de um modo que eu diria ser quase pomposo: é o grande senhor das artes plásticas, o artista ciente da sua importância social. Dürer, por outro lado, parece-me retratar-se como o artista ciente da sua transcendentalidade, da sua quase sacralidade.