quinta-feira, janeiro 19, 2006

Pousamos o nosso olhar para ir mais longe


E quando nos pousamos na obra, quando a tocamos e, depois, quando a lemos, quando lhe buscamos sentidos e tentamos decifrá-la, participamos da sua índole porque ela fala, na sua linguagem única e através de códigos que lhe são próprios. A obra vai-se revelando, vai ultrapassando a sua forma e dá-se ao mundo.
O papel do artista como agente de comunicação, e como enformador e criador de mundos é, neste contexto, incomparável a qualquer outro interveniente social. Trata-se de um produtor invulgar, que compõe obras graúdas em valores estéticos, e que respira o ar do mundo como fonte de inspiração e como forma de interpretação. E depois de encher o peito de mundo, o artista transforma-o em outra natureza oferecível e desvendável. E a obra de arte é, ou devia ser, um fruto e, ao mesmo tempo, um factor enformante que ajuda a recriar as estruturas do todo social e que provoca reacções, porque ela consubstancia um ardil dialogante...
Mas este lugar do artista no mundo nem sempre aconteceu desta forma. Ele foi de tudo, e de nada, ele foi homem e também foi deus... ele foi, ao longo da história, aquilo em que soube e em que pode transformar-se.
Porventura esse homem tudo-e-nada, e que cruzou o seu destino com o nosso nalgum ponto de encontro que fizemos com o mundo, deixou livre o seu lugar para o ceder ao seu conceito...

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