quinta-feira, outubro 02, 2008

como a vida é feita de pequenas coisas, não estamos realmente preparados, enquanto seres de vida, para as coisas grandes. o desequilíbrio assim gerado pela natural incompetência para uma percepção mais capaz da dimensão das coisas impõem-nos as coordenadas estabelecidas na fraqueza, facto que resultará na mais óbvia aniquilação do homem enquanto ser de vida.

2 comentários:

éme. disse...

Talvez...
Aliás _______
Sim, também julgo que não estamos preparados para as coisas grandes mas, por outro lado (ou O lado em que penso que me movo), se há coisa em que as teorias da percepção se passaram um bocadinho foi mesmo nisto: contrariamente à teoria (e à experiência tal como somos) aqui o todo é mesmo mesmo uma soma de partes: lá está, das pequenas partes que nos enchem os dias, contamos os feitos grandes que nos desenham (delimitam?) a vida!
Não estamos prontos para o tudo de uma vez,
não sabemos lidar com o todo de uma assentada, mas
A vida é feita daqueles pequenos nada que nos engrandecem as horas, disso quero continuar certa.
Cansamo-nos a desperdiçar energias em busca do tal bem maior, do tal querer mais forte, do improvável possível mais longe...
E é por que nos cansamos que perdemos de vista o som leve de um respirar compassado, o suspiro tranquilo de cada degrau que se trepou, o riso límpido ali ao lado, a lágrima caída que se enxuga, o livro que se tenta não acabar mesmo quando se está mortinho para lhe saber o fim, o filme que afinal ficou a meio e nos deixa inventar-lhe sequências, consequências de nós... Os trabalhos que parecendo não ter sossego, subitamente, ao fim de milhões de minutos de desespero, cessam, terminam, dão-se por concluídos e nós assim: exaustos, quase vazios e, afinal, vibrantes. Prontos a partidas novas,
a chegadas outras,
a caminhos improváveis,
com companhias tão errantes quanto soltas,
tão seguras quanto distantes...
são as pequenas coisas.
que as grandes facilmente se disfarçam e prontamente nos desviam de outro caminho:
O Nosso.

Carla Alexandra Gonçalves disse...

Uau!

por acaso não estava a pensar nas teorias Gestalt quando escrevi estas frases, mas noutras coisas...
contrariamente à gestaltheorie, então o todo é mesmo a reunião das partes.
grande comentário!, principalmente quando lido numa época como a que por agora estou a passar: com uma gripe altamente incapacitante. Nesta altura, e em termos estritamente práticos, atende-se muito mais às coisas simples da vida, como a capacidade de sair de casa sem dores e sem os olhos a saltar das´órbitas,como a capacidade de sentir o cheiro e o sabor do café..., o prazer de fumar um cigarro, etc. Estou hoje assim, de facto, com saudades das pequenas coisas que todos os dias nos são banais demais para repararmos nelas.
beijos grandes,
c